1064 – Debates, pero no mucho…

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ufba-narcísica.

P.

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esaroso como o “aborto dialogal” que tanto prometia, o meu amigo de gorro vermelho e pito prostrou-se quase inerte na sua cadeira de três pernas. Depois de quase lhe implorar para que me dissesse o porquê daquele banzo todo, ele resolveu abrir o jogo:

– Fiquei frustrado, chefia. Imaginei que os assinantes da “debates-l” iriam se refastelar de doutas ponderações  acerca de se é bom ou não que se cobrem mensalidades nas IFES. Mas qual! De repente, não mais que de repente, veio o balde de água gelada em pleno mês de junho, mais frio do que de costume! Talvez seja o caso de buscar o consolo na sabedoria popular: “Quando um não quer, dois não dialogam!” Donde se conclui que a gloriosa lista é de “debates”, pero no mucho!

Do canto da sala, a Vaca Tatá, que tudo ouvia atentamente, alfinetou:

– Ué, Saci! Até você? A democracia assegura o direito de qualquer um jogar a toalha quando bem entender!…

Dando de ombros, e fazendo-se de surdo, o pestinha se picou amuado.

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Abaixo, os escritos veiculados na “debates-l” que tanto mexeram com o sensível pestinha:

 

Prezado Professor Francisco,

Eu posso citar quem eu queira e de que forma. Um direito meu! Não sou pautado por ninguém, muito menos pelo senhor. Desta forma, definir em que proporção eu concordo, ou deixo de concordar com alguém, resulta de um processo de um processo de reflexão individual meu. Somente meu. Se adequado ou não aos olhos de outros, não importa. O que escrevo eu assino e pelo meu texto me responsabilizo.

Quanto às suas ilações, são de sua única responsabilidade (ou falta dela) e, face a isto, espero que as assuma. A minha manifestação, aqui ou acolá, resulta da vontade pessoal de opinar sobre questões a meu ver adequadamente colocadas e, a um só tempo, relevantes e bem construídas. E, tudo isto, sob os meus critérios de valor intelectual.
Não polemizo com os seus textos.

Cordialmente,

Caio Castilho

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O Prof. Caio Castilhos disse no seu e-mail abaixo:

“Nem necessário é concordar com tudo. É preciso compreender, refletir, concordar/discordar… Pensar! Atitude, cada vez mais rara, no ambiente universitário …”

No que eu concordo, pelo menos com esse trecho.
Parece que apenas dois professores atenderam ao apelo do Prof. Caio: O Prof. José Roque e eu. Isso não quer dizer que os demais professores se enquadrem nas definições do Prof. Caio.

Na minha reflexão abaixo, eu cometi um equívoco. Eu mantenho a minha análise contra o pagamento de anuidades nas escolas públicas, mas essa não é a posição do professor Giannotti e consequentemente nem a do Prof. Caio, que embora não tenha explicitado a sua, deve ter algum ponto de concordância ou simpatia com a do Prof. Giannotti, pois a citou para reflexão.

Contribuíram para o equívoco, além da leitura apressada, a resposta rápida e pronta do Prof. José Roque e o não em azul do texto que ao invés de salientá-lo o camuflaram para meus neurônios.
Mas desculpas a parte, vamos ao que interessa que é uma reflexão sobre o texto do Prof. Giannotti.

Ele é terminantemente contra cobrar anuidades e contra vender a USP, com argumentos aos quais sou simpáticos.

Mas discordo dele quanto a dizer que o problema principal não é falta de verba.

Citêmo-lo:

“E parte de um diagnóstico errado, como se a crise da USP e de tantas outras instituições de ensino fosse provocada antes de tudo por falta de verba.

O cerne da questão reside em como a universidade pública está exercendo o mandato que a sociedade lhe confere. Para que ela se reforme a si mesma, encontre seu enorme potencial, hoje desbaratado, necessita de maior autonomia, contrabalançada por um forte sistema de avaliação externa. Autonomia ampla, isolada dos alinhavos da burocracia do Estado, que force seus membros a virem a ser o que devem ser –antes de tudo, consciência e sementes de uma nação.”
Os erros fundamentais que levaram a universidade pública brasileira ao atual estágio são baseados em dois mitos: o da neutralidade da ciência e o da autonomia absoluta da ciência.
O da neutralidade científica levou à cópia de sistemas pseudo-universais de política científica ou pedagógica sem a devida redução sociológica (apud Guerreiro  Ramos). E o resultado é que o país foi colonizado também cientificamente. A sua política científica é ditada por centros de poder fora de qualquer controle nacional.

O da autonomia absoluta da universidade leva ao conceito errado de que autonomia se tem sem dinheiro. E o único dinheiro que dá esta autonomia é o garantido pelo estado. Não confundir governo com estado. Dinheiro de governos leva ao atrelamento da universidade á linha política do partido que está no poder naquele momento. O dinheiro do estado é aquele garantido por leis independentes de governos.

Embora nossos recursos venham majoritariamente do estado e de órgãos vinculados ao estado entretanto perdemos nossa autonomia para o Banco Mundial e o FMI, pois o estado Brasileiro como um todo perdeu sua autonomia para o FMI e o Banco Mundial.

A política seguida desde o plano Real é a do Banco Mundial que se baseia no Estado Mínimo, contenção ao máximo dos gastos públicos e em suma privatização ao máximo do ensino superior sob a aparência de uma falsa democratização do ensino superior, que fica evidente no conflito do Exame da OAB com os diplomados em direito.

Assim além da privatização em geral do ensino público, a própria Universidade Pública está sendo privatizada por dentro. O sistema mestrado-doutorado-pós doutorado-publicação em revistas de excelência, tem todos os elementos da apropriação privada do conhecimento pela divisão do trabalho descrita em todos os manuais de economia política, marxistas ou Ricardianos, mesmo se dizendo entidades sem fins lucrativos, pois se sustento vendendo conhecimento a empresas privadas.

Soma-se a esse processo a falsa autonomia dos professores captarem recursos
para seus projetos, estimulando o individualismo, o corporativismo, afalta de visão coletiva e todos os males citados de burocracia corporativa por Giannotti.

Vou findar aqui e continuara depois em outro e-mail, por dois motivos: 1) para não ser muito chato; 2) meu computador está travando repetidamente tornando uma tortura escrever um texto de mais de 5 linhas.

Até o próximo e-mail, pois esse texto do Giannotti é muito rico em reflexão.

E espero que o Prof. Caio também nos brinde com a sua reflexão.

[Francisco Santana]

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José Arthur Giannotti não apenas deu contribuições significativas à instituição universitária brasileira. Continua a dar. A despeito dos seus mais de oitenta anos! Não custa refletir…
Nem necessário é concordar com tudo. É preciso compreender, refletir, concordar/discordar… Pensar! Atitude, cada vez mais rara, no ambiente universitário “mediocrizado”  (este verbo existe?) por vínculos políticos que, na verdade, são ” políticos”. Em tempos, como os de hoje, o sistema binário parece operar no sentido de favorecer a pobreza intelectual. Lamentavelmente ….

Caio Castilho

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JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI

TENDÊNCIAS/DEBATES

A USP deveria cobrar mensalidades dos alunos?

NÃO

Por que não vender a USP?

A USP tem gasto mais com seu pessoal do que recebe do Estado. Muitos de seus alunos podem arcar com os estudos. Não seria natural que viessem a pagar por eles? Segundo qual critério? A renda de suas famílias? Em vez de adotar uma medida paliativa, por que não vender a própria universidade, transformá-la numa dessas instituições de ensino que distribuem diplomas como vendem bananas?

Como estamos vendo, basta levar ao limite a proposta de cobrança das mensalidades para que se evidencie o absurdo dessa medida. A ideia não leva em consideração que, assim como a Unicamp e a Unesp, a USP é pública. Apenas revela como a noção de espaço público está desparecendo do imaginário e da política brasileiros. E parte de um diagnóstico errado, como se a crise da USP e de tantas outras instituições de ensino fosse provocada antes de tudo por falta de verba.

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SOU CONTRA VENDER A USP. SOU CONTRA COBRAR MENSALIDADES NA USP. NA USP, HÁ APENAS, ALUNOS DAS CLASSES D e E CUJAS FAMÍLIAS TÊM EM MÉDIA 03 SALÁRIOS MÍNIMOS.

JOROMOTA.

 

3 Respostas to “1064 – Debates, pero no mucho…”

  1. Chico Viola Says:

    Chico Pica-Pau é f*. Fez o outro colega correr do pau! kkk!!!

  2. Roberto Mascarenhas Says:

    Caio não tem estofo político para enfrentar Chico. O positivismo dos tecnicistas só da conta de resolver problemas domésticos do cotidiano.

  3. Saci-Pererê Says:

    Circulou na “debates-l”:
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    Colegas,

    Sempre que posso divulgo esse curto texto que o engenheiro Karl Terzaghi, considerado o pai da Mecânica dos Solo, seguramente um dos maiores engenheiros do Século XX, escreveu se referindo à engenharia e aos trabalhos científicos de uma maneira geral (em tradução livre, o original em inglês, está mais abaixo):

    A engenharia é um nobre esporte que clama por bons desportistas. Uma mancada de vez em quando faz parte do jogo. Permita-se a ambição de ser o primeiro a descolorir e ansiar as suas próprias mancadas. Se alguém se adiantar e chegar na sua frente, sorria e agradeça o seu interesse. Quando você começar a se sentir tentado a não reconhecer os seus erros perante evidencias irrefutáveis, já deixou se ser um bom desportista e ja se tornou ranzinza ou rabugento.

    O pior hábito que se pode adquirir é o de perder a disposição de criticar as sua próprias ideias e torrar-se cético em relação às de outros. Quando você chegar a esse ponto você estará à beira da senilidade, qualquer que seja a sua idade.

    Quando você publicar as suas ideias enfatize cada aspecto controverso que perceber. Dessa maneira você conquistará o respeito dos seus eleitores e permanecerá ciente das possibilidades para aperfeiçoamentos posteriores. Qualquer outro modo de agir é o meio mais seguro de arruinar a sua reputação e paralisar as suas próprias atividades mentais.

    Pouquíssimas pessoas são tão estúpidas ou tão desonestas que você não possa aprender nada com elas.

    Saudações

    Roberto Bastos Guimarães

    local onde se encontra o texto

    Clique para acessar o 2009apr19.pdf

    Professional Attitude

    By DR. KARL VON TERZAGHI
    (1883-1963)

    1) Engineering is a noble sport which calls for good sportsmanship.
    Occasional blundering is part of the game. Let it be your ambition to be the first one to discover and announce your blunders. If somebody else gets ahead of you, take it with a smile and thank him for his interest. Once you begin to feel tempted to deny your blunders in the face of reasonable evidence, you have ceased to be a good sport. You are already a crank or a grouch.

    2) The worst habit you can possibly acquire is to become
    uncritical towards your own concepts and at the same time
    skeptical towards those of others. Once you arrive at that state
    you are in the grip of senility, regardless of your age.

    3) When you commit one of your ideas to print, emphasize
    every controversial aspect of your thesis which you can perceive,
    thus you win the respect of your readers and are kept
    aware of the possibilities for further improvement. A departure
    from this rule is the safest way to wreck your reputation and to
    paralyze your mental activities.

    4) Very few people are either so dumb or so dishonest that
    you could not learn anything from them.

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