176 – O leito de Procusto
Não confundir Procusto com Augusto!
Pois é. O meu amigo Saci está aqui ao meu lado me pedindo o obséquio de chamar a atenção do leitor para uma coisinha: não confundir “Leito de Procusto” com “Deleite de Augusto”. Procusto foi um malvadão que viveu na mitologia grega e que cedia sua cama de ferro para seus hóspedes. Só que o infeliz tinha que caber exatamente nela. Se, por acaso, fosse muito grande, o tal Procusto, piedosamente, cortava-lhe as pernas ou o que mais precisasse para caber no leito; se era pequeno, esticava-lhe o corpo todo até… Ui! Chegou minha coluna estalar!…
Quanto a Augusto… Ah! Augusto pode ser qualquer pessoa respeitável, magnífica: Antônio Augusto, José Augusto, João Augusto…
– Chefia, chefia! Por falar nisso, veja aqui a relação da Chapa Única dos candidatos à sucessão da diretoria da APUB! O incansável Prof. João Augusto está se recandidatando! Hum!! Bom menino! Se na reitoria ainda não foi possível, enquanto descansa…
novembro 24, 2010 às 11:16 am |
Circulou na Debates-l da UFBA
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Prezados,
Gostaria de parabenizar o colega Marcos Palácios pelas lúcidas e inteligentes observações.
Parece-me que o que Naomar propõe busca apenas ser uma adequação ao modelo de curso que ele trouxe para a Ufba. Em suma, o curso superior (BI) passa a ser apenas uma extensão do ensino médio e a pós-graduação em qualquer nível passa a ser apenas uma extensão do BI. Ou seja, a universidade vira um escolão de 3o. grau (como na maioria das faculdades particulares) que busca apenas tapar buracos da formação acadêmica do aluno para lhe outorgar um diploma universitário com o qual ele possa concorrer a empregos públicos (pois isso parece ser a única coisa que um “bacharel interdisciplinar” pode fazer na prática com seu diploma genérico).
E onde vai parar a qualidade desses cursos?
Como bem lembrou Palácios, esse deveria ser o papel dos nossos cursos de especialização (que no Brasil convencionou-se chamar erroneamente de MBA, sigla inglesa para mestrado em administração) e dos mestrados profissionais, e não dos mestrados acadêmicos e doutorados.
Por que temos que nos adequar a modelos estrangeiros que ou ainda não foram testados ou têm sido piores do que os nossos?
Pena que até agora poucas pessoas tenham se pronunciado sobre o assunto e temo que brevemente vejamos os nossos conceituados cursos de mestrado e doutorado transformados em MI e DI, todos distribuídos no mesmo sacolão/bolsa do REUNI.
Abraços,
Décio Torres Cruz
Departamento de Letras Germânicas
(Atualmente, em pós-doutorado na Universidade Metropolitana de Leeds, Inglaterra)
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From: Marcos Palacios
Sent: Monday, November 22, 2010 4:20 PM
To: naomarf@ufba.br
Cc: grupojol@googlegroups.com ; José Afonso Jr ; debates-l@listas.ufba.br ; apubdebates-l@listas.ufba.br
Subject: Re: [Debates-l] [Apubdebates-l] Debate sobre Artigo na Folha
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Naomar, Colegas,
Volto ainda uma vez (e última, pois acho que outras vozes de devem fazer ouvir nesse debate) a responder às ponderações feitas às minhas considerações ao seu artigo publicado na FSP e JC.
Para facilitar a leitura, já que as respostas foram dadas ponto a ponto, coloco em azul minhas novas argumentações, seqüencialmente às do colega Naomar:
Em 19 de novembro de 2010 13:05, escreveu:
Ze Afonso e Marcos,
Nada como um bom debate acadêmico de nível.
É disso que a Universidade precisa.
No caso específico, valorizo mais ainda a participação de vcs no debate porque estão no foco dos acontecimentos, nesse caso no front ibérico do Processo de Bolonha, um na Universidade da Beira Interior (UBI) e outro na Univ. Pompeu Fabra.
Obrigado.
Replico as contribuições de vocês ponto a ponto:
De Marcos:
“…minha impressão do chamado Mestrado Integrado é a pior possível. Na prática, não se trata em absoluto de Pós-Graduação stricto sensu, como temos hoje no Brasil, mas de uma continuidade da Graduação, que foi encurtada aqui de quatro a cinco para três anos.”
O CONCEITO DE SENSO ESTRITO NA PG É INVENÇÃO BRASILEIRA, DO PARECER SUCUPIRA, QUE JUSTIFICA O SENSO LATO PARA PREENCHER O FOSSO GRADUAÇÃO / PÓS, TERRA DE NINGUÉM ABERTA AO MERCADO PRIVADO DE ENSINO. É CLARO QUE O CONCEITO DE MESTRADO INTEGRADO (BOLONHA NA VERSÃO IBÉRICA) É MAIS COMPATÍVEL COM OS MASTER ANGLO-SAXÕES QUE COM AS MAESTRÍAS E MESTRADOS LATINO AMERICANOS.
Não me parece ser automaticamente uma desqualificação o fato de o lato senso ser uma invenção brasileira. A Especialização, com suas 360 horas e direcionamento a temáticas mais específicas, pode ser uma forma perfeitamente aceitável de continuidade de estudos e aperfeiçoamento profissional, para quem deseje uma formação pós-graduada mais rápida e sem vinculações imediatas com uma carreira acadêmica. Se as Universidades públicas não utilizam mais esse modelo de formação e deixam esse tipo de curso para as instituições privadas, é de se perguntar se não seria o caso de oferecermos mais cursos desse tipo, como parte do menu corrente das universidades públicas e não apenas em caráter excepcional e – muitas vezes – como mal-disfarçados caça-níqueis para melhorar as receitas dos Programas e complementar os salários de docentes, como atualmente ocorre.
“… não se estabelece uma ruptura de níveis entre Graduação e Pós-Graduação, como ocorre em nosso caso, com um processo de seleção, preparação de um projeto de pesquisa como condição de acesso à Pós, elementos geradores da consciência ou pelo menos ‘sensação’ de que se transitou para uma situação nova: a de pós-Graduando . Com o modelo Bolonha, nada disso acontece e os estudantes de Mestrado continuam a agir e atuar como os de Licenciatura, com a percepção de que estão apenas dando seguimento a dois anos mais dos estudos, no mesmo ritmo e espírito com que estiveram cursando os três anos anteriores, na Licenciatura.”
ANÁLISE CORRETA. E’JUSTAMENTE A SUPERAÇÃO DESSA RUPTURA ENTRE GRADUAÇÃO E MESTRADO QUE ESTAMOS PROPONDO, DESLOCANDO O RITO DE PASSAGEM MAIS SELETIVO E RIGOROSO PARA O DOUTORADO. ENTÃO NAO VEJO ISSO COMO DESVANTAGEM.
Receio que partindo do que diz considerar ser uma “análise correta”, você tire conclusões que me parecem non-sequitur, face àquilo que aqui se observa desde a implantação do modelo Bolonha: o Rito de passagem no Doutorado não poderá ser “mais seletivo e rigoroso”, como você sugere, pois os Mestrados Integrados fornecerão candidatos menos preparados para os programas doutorais. O que se observará será – quase que fatalmente, na maioria das áreas – um rebaixamento das barreiras para admissão ao Doutorado, para absorver os formados pelo Mestrado Integrado. Da mesmo forma que me parece que você está defendendo o Mestrado Integrado como forma de assimilar o grande número de concluintes nos Bacharelados Interdisciplinares (B.I.s) que, uma vez formados, terão dificuldades de decidir o que fazer com o título obtido. Faço uma sugestão: direcione aqueles com vocação acadêmica para os nossos Mestrados Acadêmicos – já existentes – e proponha a criação de Mestrados Profissionalizantes para aqueles que não demonstrarem esse tipo de vocação. Não há qualquer demérito em não ter vocação acadêmica.
“… Com o modelo Bolonha, esta diferenciação entre Acadêmico/Profissionalizante na prática deixa de existir nos Mestrados Integrados, com todos fazendo um pouco de tudo, sem uma diferenciação clara para os que pretendem seguir caminhos mais marcadamente acadêmicos. Resultado: dissertações de Mestrado que deixam muito a desejar e, principalmente, candidatos doutorais muito mais fracos e com menos experiência de uma real Pós-Graduação de orientação acadêmica. […] Aliás, antecipo problemas quando chegarem aos nossos Programas de Pós-Graduação, para reconhecimento e revalidação, os diplomas obtidos na maioria dos cursos de Mestrado Integrado europeus pós-Bolonha. Poderão, em alguns casos, obter reconhecimento como Mestrados Profissionalizantes, mas dificilmente como Mestrados Acadêmicos.”
TIVEMOS ANTEONTEM AQUI O ENCONTRO NACIONAL DOS MESTRADOS PROFISSIONAIS, PROMOVIDO PELA PROFA. TANIA FISCHER. DISCUSSAO DE ÓTIMO NÍVEL. CONVERGIMOS JUSTAMENTE PARA A NECESSIDADE DE SUPERAR A DIFERENCIAÇÃO E O PRECONCEITO QUE DESVALORIZA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO NÍVEL MESTRADO NO BRASIL. O MESTRADO ACOPLADO À GRADUAÇÃO, COM ENFASE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL (MASTER = MEISTER), FAZ PARTE DE UMA TRADIÇÃO DE 200 ANOS NO MODELO GERMÂNICO/ANGLO-SAXÃO DE HUMBOLDT-BERLIN-HEIDELBERG/ NEWMAN-OXBRIDGE/ GILMAN-HOPKINS-HARVARD. ESSE MODELO VALORIZA (E RITUALIZA) O DOUTORADO.
Concordo plenamente que a Formação Profissional (incluído aí o Mestrado Profissionalizante) deve ser altamente valorizada. Vejo no Mestrado Profissionalizante uma via fundamental para aqueles que, terminando sua graduação, desejem continuar seus estudos, porém não necessariamente com um direcionamento acadêmico como meta final. É lamentável, por exemplo, que no Brasil tenhamos mais de 30 Mestrados Acadêmicos em Comunicação, e nenhum Mestrado Profissionalizante, por exemplo em Jornalismo ou Relações Públicas, áreas que poderiam claramente se beneficiar com esse tipo de pós-graduação de caráter profissionalizante.
Por outro lado, discordo frontalmente da idéia de que a valorização do Mestrado Profissionalizante deve ser feita através da eliminação do Mestrado Acadêmico e a criação de um Integrado, que acabará por não ser nem uma coisa nem outra.
QUANTO À REVALIDAÇÃO, O PROBLEMA NO MUNDO GLOBALIZADO, COM O BRASIL PROTAGONISTA SERÁ EXATAMENTE O SIMÉTRICO OPOSTO. VEJA O OUTRO LADO: O QUE SERIA EQUIVALENTE AO MESTRADO ACADÊMICO BRASILEIRO (NA VERDADE UMA LICENCIATURA PARA O ENSINO SUPERIOR) NA SORBONNE, EM OXFORD, EM SALAMANCA, EM COIMBRA OU EM BOLONHA? OU EM HARVARD OU PRINCETON, NA MCGILL OU NA MONASH? SE NESSES CENÁRIOS ACADÊMICOS, REPRESENTATIVOS DE 18 DAS 20 NAÇÕES MAIS PRODUTIVAS CIENTÍFICAMENTE, A HABILITAÇÃO PARA A PESQUISA E O ENSINO SUPERIOR É O DOUTORADO?
Em primeiro lugar discordo frontalmente da sugestão que nosso Mestrado seja apenas uma “Licenciatura para o Ensino Superior”. Aliás, acho até que esse é um componente em geral negligenciado e para o qual se deveria ter mais atenção em nossos Programas. Considero que o mais importante na formação impartida por um Mestrado Acadêmico seja, justamente, a iniciação à pesquisa que esse percurso representa, preparação para o novo Rito de Passagem a ser enfrentado, quando de uma seleção para o Doutorado.
Não tenho a menor dúvida que um Programa europeu que adote o modelo Bolonha pode validar um Mestrado Brasileiro, seja ela acadêmico ou Profissionalizante. E por uma razão muito simples: nossos Mestrados, dos dois tipos, são no mínimo comparáveis ao que de melhor se faz na Europa pós-Bolonha. O fato de adotarmos uma sistemática distinta não nos faz inferior. Neste caso, dá-se o contrário. Levar em conta a Globalização não significa, necessariamente, a adoção de padrões europeus ou norte-americanos, mas sim estarmos aptos produzir uma formação científica e acadêmica igual ou superior àquela oferecida em outros centros universitários. Minha experiência de docência aqui e minhas visitas a vários centros de excelência de Portugal e da Espanha fazem-me convicto que estamos respondendo à altura.
Insisto: levou anos para montarmos nosso sistema de pós-graduação, que – acreditem – faz inveja à maioria dos colegas europeus que entra em contato com nosso modelo e o conhece mais de perto. Conhecendo e vivenciando outros modelos, cresceu-me o orgulho de ter participado, nos últimos 30 anos, da criação e aperfeiçoamento de “nosso modo de fazer”.
Vamos com calma, com responsabilidade e sem ganas para simplesmente emular e copiar modelos como o de Bolonha que, afinal de contas, ainda não foi sequer testado por um tempo suficientemente longo para servir de paradigma a coisa alguma.
Temos o que melhorar em nosso sistema, temos que expandir vagas preservando a qualidade, mas – por favor – sem perdermos de vista o que de nosso fizemos de bom. Nem sempre ser Brasileiro é estar no pior dos Mundos.
É só.
Saudações,
Marcos PalaciosProfessor Titular
FACOM/UFBA
De Zé Afonso:
“… Temos no Brasil uma sistemática de pós-graduação consolidada como política de estado que é muito mais condizente com a responsabilidade científica, teórica e epistemológica que a produção científica exige.”
O MODELO DE PG NO BRASIL É CONSOLIDADO A PARTIR DA REFORMA DE 1968, NUMA TRAJETÓRIA DE ISOLACIONISMO POLÍTICO DA DITADURA MILITAR. CLARO QUE, NOS NÍVEIS ALTOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ACADÊMICA, AS REDES DAS COMUNIDADES DE PESQUISADORES SUPERAM AS BARREIRAS, MAS DE MODO INDIVIDUALISTA E LIMITADO. O CONTEXTO ATUAL É OUTRO. O BRASIL ESTÁ PRESTES A ENTRAR NA OCDE, TEM UMA POLÍTICA INTERNACIONAL PROTAGÔNICA, ESTÁ NUM CICLO SUSTENTADO DE DESENVOLVIMENTO. QUANTO A ESTE MODELO SER “MUITO MAIS CONDIZENTE” COM O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, HÁ CONTROVÉRSIAS. APESAR DO SPRINT RECENTE EM NÚMERO DE PUBLICAÇÕES (FUNDAMENTALMENTE EM ÁREA BÁSICA) ESTAMOS LONGE DE SER UM PARQUE UNIVERSITÁRIO IMPORTANTE NO MUNDO. SOB QUALQUER PARÂMETRO, DE RANKING OU DE IMPACTO.
AS OUTRAS OBSERVAÇÕES DE ZÉ AFONSO SÃO SÁBIAS E POR ISSO CONCORDO COM ELAS.
NO GERAL, SOBRE AMBOS OS COMENTADORES, RESPEITO AS RESPECTIVAS INTERPRETAÇÕES POREM AS INTERPRETO COMO PRESAS A REFERÊNCIAS RESULTANTES DE FORMAÇÃO NUM MODELO CONSOLIDADO POR TRÊS GERAÇÕES DE APLICAÇÃO DO PRÓPRIO MODELO. QUEM FEZ DOUTORADO NO BRASIL NOS ANOS 2000 DEVE TER SIDO ORIENTADO POR ALQUÉM DOUTORADO NOS ANOS 1990 QUE, POR SUA VEZ, FOI DISCÍPULO DE QUEM SE DOUTOROU NOS 1980, NA PRIMEIRA ONDA FORMADA PELA PG CONCEBIDA POR SUCUPIRA.
NO ESPÍRITO UNIVERSITÁRIO DE ALTO NÍVEL DOS DEBATES, AGUARDO OUTRAS QUESTÕES.
Abs
Naomar
Citando José Afonso Jr :
Marcos e colegas,
Também tenho tido a oportunidade de observar os processos de adaptação das universidades européias a “plataforma Bolonha”. Estou fazendo meu pós-doc em Barcelona como professor visitante na Univ. Pompeu Fabra. Tive a oportunidade de ministrar aulas no master e coincido nos diagnósticos apontados na sua mensagem.
Temos no Brasil uma sistemática de pós-graduação consolidada como política de estado que é muito mais condizente com a responsabilidade científica, teórica e epistemológica que a produção científica exige. Isso sem falar mas aberrações que tenho ouvido aqui na Europa, de universidades (que obviamente não citarei aqui publicamente) que para se adequar ao downsizing contido no acordo de Bolonha, tem operado. Exemplo: monografias de conclusão de master em ciências humanas com 25 páginas!
A postura de ampliar o acesso à pós-graduação merece ter o debate ampliado, sobretudo com perspectivas que garantam o caminho percorrido e consolidado no Brasi e tomando muito cuidado com as perspectivas quantitativas que se apresentem nem sempre com contrapartidas qualitativas. Na verdade, falando no popular, nem o terceiro mundo é tão terceiro assim, nem o primeiro é tão primeiro quanto parece. Porque, prezados, nada é perfeito e assim é a vida.
Abraços a todos.
—————————
José Afonso Jr.
PPGCOM – DCOM – UFPE. Recife, Pernambuco, Brazil.
Visiting Scholar at Univ. Pompeu Fabra – Barcelona, Spain (2010-2011).
zeafonsojr@gmail.com
cel-mob. BR/ 55-81-8856.3272
cel-mob. ES/ 34-666.902.185
http://www.ufpe.br/ppgcom/ http://afdeautofoco.blogspot.com/
—————————————————-
On 18/11/2010, at 20:59, Marcos Palacios wrote:
Prezado Naomar, prezado(a)s colegas,
Li com interesse o seu artigo, publicado na Folha de São Paulo e reproduzido pelo Jornal da Ciência. Estou no momento em temporada como Professor Visitante na Universidade da Beira Interior (UBI), na cidade de Covilhã (Portugal), desde fevereiro deste ano. Durante este período tive oportunidade de conviver com colegas docentes e pesquisadores nesta Universidade, onde tive a melhor das acolhidas, e ministrar aulas para estudantes de Graduação (aqui Licenciatura), Mestrado e Doutorado.
Lamento, mas minha impressão do chamado Mestrado Integrado é a pior possível. Na prática, não se trata em absoluto de Pós-Graduação stricto sensu, como temos hoje no Brasil, mas de uma continuidade da Graduação, que foi encurtada aqui de quatro a cinco para três anos. Com isso, têm-se, na verdade e na prática, uma Graduação de cinco anos e – como possível continuidade – o Doutorado.
Na minha avaliação as desvantagens são muitas:
a) não se estabelece uma ruptura de níveis entre Graduação e Pós-Graduação, como ocorre em nosso caso, com um processo de seleção, preparação de um projeto de pesquisa como condição de acesso à Pós, elementos geradores da consciência ou pelo menos ‘sensação’ de que se transitou para uma situação nova: a de pós-Graduando . Com o modelo Bolonha, nada disso acontece e os estudantes de Mestrado continuam a agir e atuar como os de Licenciatura, com a percepção de que estão apenas dando seguimento a dois anos mais dos estudos, no mesmo ritmo e espírito com que estiveram cursando os três anos anteriores, na Licenciatura. Ritos de Passagem continuam sendo importantes, especialmente em ambientes altamente simbólicos, como o Universitário;
b) nosso modelo de Mestrado atual (inclusive com a clara separação entre Mestrado Acadêmico e Profissionalizante) continua oferecendo uma via de preparação inicial de pesquisador (Mestrado Acadêmico), que tem por meta a culminação de sua formação e o início de sua efetiva contribuição ao Conhecimento no estágio do Doutorado. Com o modelo Bolonha, esta diferenciação entre Acadêmico/Profissionalizante na prática deixa de existir nos Mestrados Integrados, com todos fazendo um pouco de tudo, sem uma diferenciação clara para os que pretendem seguir caminhos mais marcadamente acadêmicos. Resultado: dissertações de Mestrado que deixam muito a desejar e, principalmente, candidatos doutorais muito mais fracos e com menos experiência de uma real Pós-Graduação de orientação acadêmica. Aliás, antecipo problemas quando chegarem aos nossos Programas de Pós-Graduação, para reconhecimento e revalidação, os diplomas obtidos na maioria dos cursos de Mestrado Integrado europeus pós-Bolonha. Poderão, em alguns casos, obter reconhecimento como Mestrados Profissionalizantes, mas dificilmente como Mestrados Acadêmicos;
c) para completar, Bolonha reduziu o Doutorado de quatro para três anos. Paradoxalmente, acredito que no modelo vigente no Brasil, e não no ora implementado por aqui, essa redução é mais plausível. Com o modelo de Mestrado Integrado, os estudantes chegam ao Doutorado menos preparados do que no modelo anterior e têm um prazo menor para concluir essa etapa, quando de fato necessitariam de mais tempo, para garantir a consolidação do que não foi devidamente sedimentado no Mestrado. Não me parece um panorama muito promissor, menos ainda um modelo a ser emulado.
Acredito que temos no Brasil um modelo consistente de pós-Graduação por mérito, que consumiu anos de aprimoramento, com implantação de processos sérios de avaliação pela Capes, montagem de programas de incentivos a projetos de cooperação nacional e internacional, criação dos mais variados tipos de bolsas e apoios e – insisto – com clara demarcação entre etapas distintas de formação Graduação/Pós-Graduação. Essa clivagem e os Ritos de Passagem que a acompanham não são desvantagens nem anacronismos, mas pontos a nosso favor.
Temos poucas vagas na Pós-Graduação? O acesso é demasiadamente restritivo? Ampliemos o número de vagas, criemos mais cursos de Pós-Graduação. Tornar a Pós-Graduação mais “democrática” através de sua dissolução em um banho ácido de Graduação não me parece, em absoluto, uma solução, mas pode representar o abandono de conquistas fundamentais, pelas quais temos trabalhado e lutado ao longo das três últimas décadas em nosso país.
Saudações Universitárias
marcos Palacios
Professor Titular
FACOM/UFBA
Em 15 de novembro de 2010 19:17, escreveu:
Colegas,
Submeto à discussão o texto anexo, publicado na Folha de São
Paulo e reproduzido pelo Jornal da Ciência. Penso que trata de um
debate efetivamente acadêmico, crucial para o futuro da universidade
brasileira.
Abs,
Naomar
SBPC Jornal da Ciência Segunda-Feira, 15 de novembro de 2010
PóS-GRADUAçãO NOVA NO BRASIL, ARTIGO DE NAOMAR DE ALMEIDA
FILHO
“Precisamos recriar o modelo nacional de pós-graduação; antes de
tudo, o abismo entre graduação e pós-graduação no país deve ser
removido”
Naomar de Almeida Filho é professor titular do Instituto de Saúde
Coletiva e do Instituto Milton Santos de Humanidades, Artes e
Ciências da Universidade Federal da Bahia, da qual foi reitor.
Artigo publicado na “Folha de SP”:
A universidade brasileira vive raro momento de inovação e
expansão, propício para rever práticas e repensar estruturas. Nesse contexto, vale destacar a criação de novas modalidades de graduação, compatíveis com o “college” norte-americano e o “bachelor” de Bolonha, na Europa.
A UFABC (Universidade Federal do ABC) foi inaugurada em 2005 com o
bacharelado em ciência e tecnologia, um primeiro ciclo de três anos
com onze opções de segundo ciclo.
Em 2007, a UFBA (Universidade Federal da Bahia) aprovou a oferta de
bacharelados interdisciplinares como primeiro ciclo para 81 opções
de graduação. Dentro do Reuni, outras instituições seguem essa
tendência inovadora: UFSC, UFRN, Ufersa, UFCG, UFRB, UFJF, Unifal,
UFVJM, UFSJ, Unifei, UFV, UFRJ, Ufac e Ufopa.
A Unesp abre o bacharelado em ciências exatas, curso de três anos
com opções de segundo ciclo, e a Unicamp inicia um programa
interdisciplinar de dois anos, primeiro ciclo geral para formação
profissional específica.
Em 2011, mais de 10 mil estudantes estarão matriculados em 26
cursos de graduação de primeiro ciclo, em algumas das melhores
universidades brasileiras.
A graduação se renova, portanto.
Não obstante, se quisermos avançar no desejado processo de
internacionalização, precisamos agora recriar o modelo nacional de
pós-graduação.
Para isso, antes de tudo, o abismo entre graduação e
pós-graduação, que trava a educação superior brasileira, herança
do Parecer Sucupira de 1966 e da reforma universitária de 1968, deve
ser removido.
Assim, poderemos integrar graduação e mestrado, diferenciando-os
do doutorado.
Mestrado é educação em métodos, conhecimentos e práticas,
enquanto doutorado implica formação em pesquisa e criação. Por
isso, a matriz curricular do doutorado, efetivamente focada na
produção orientada de conhecimento e inovação, terá o mínimo de
cursos.
Em todos os níveis, componentes curriculares serão organizados
não por titulação, mas por nível de profundidade. Flexíveis,
estarão abertos a qualquer aluno, de graduação ou de pós, que
demonstre estar habilitado a cursá-los.
Enfim, haverá relativa autonomia entre processos formativos e
processos avaliativos (exames de qualificação, teses e
dissertações), com bancas compostas por examinadores externos aos
programas, que, excluindo o orientador, permitirão maior controle de
qualidade acadêmica.
Essas propostas articulam soluções consagradas em países com
tradição universitária consolidada. A estrutura curricular mínima
define o modelo inglês de doutorado.
A centralidade do trabalho de pesquisa, criação ou inovação
inspira-se no modelo alemão. A sequência de exames de qualificação
tem como referência o modelo norte-americano dos “graduate studies”.
A avaliação da tese por examinador externo antes da defesa tem base
no modelo francês, com a figura do “rapporteur”.
Renovada, a arquitetura curricular dos programas de
pós-graduação será mais orgânica ao ciclo atual de crescimento da
pesquisa nacional. Isso facilitará a inserção internacional da
universidade brasileira, contribuindo para o desenvolvimento soberano
do país.
(Folha de SP, 12/11/2010)
—– Final da mensagem encaminhada —–
—————————————————————-
Universidade Federal da Bahia – http://www.portal.ufba.br
Querido Naomar,
inclua meu email na sua lista, tá?
gosto smepre de ler seus textos.
abraço grande e bom feriado pra vocês,
Ana
São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2010
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TENDÊNCIAS/DEBATES
Pós-graduação nova no Brasil
NAOMAR DE ALMEIDA FILHO
Precisamos recriar o modelo nacional de pós-graduação; antes de tudo, o abismo entre graduação e pós-graduação no país deve ser removido
A universidade brasileira vive raro momento de inovação e expansão, propício para rever práticas e repensar estruturas.
Nesse contexto, vale destacar a criação de novas modalidades de graduação, compatíveis com o “college” norte-americano e o “bachelor” de Bolonha, na Europa.
A UFABC (Universidade Federal do ABC) foi inaugurada em 2005 com o bacharelado em ciência e tecnologia, um primeiro ciclo de três anos com onze opções de segundo ciclo.
Em 2007, a UFBA (Universidade Federal da Bahia) aprovou a oferta de bacharelados interdisciplinares como primeiro ciclo para 81 opções de graduação. Dentro do Reuni, outras instituições seguem essa tendência inovadora: UFSC, UFRN, Ufersa, UFCG, UFRB, UFJF, Unifal, UFVJM, UFSJ, Unifei, UFV, UFRJ, Ufac e Ufopa.
A Unesp abre o bacharelado em ciências exatas, curso de três anos com opções de segundo ciclo, e a Unicamp inicia um programa interdisciplinar de dois anos, primeiro ciclo geral para formação profissional específica.
Em 2011, mais de 10 mil estudantes estarão matriculados em 26 cursos de graduação de primeiro ciclo, em algumas das melhores universidades brasileiras.
A graduação se renova, portanto.
Não obstante, se quisermos avançar no desejado processo de internacionalização, precisamos agora recriar o modelo nacional de pós-graduação.
Para isso, antes de tudo, o abismo entre graduação e pós-graduação, que trava a educação superior brasileira, herança do Parecer Sucupira de 1966 e da reforma universitária de 1968, deve ser removido.
Assim, poderemos integrar graduação e mestrado, diferenciando-os do doutorado.
Mestrado é educação em métodos, conhecimentos e práticas, enquanto doutorado implica formação em pesquisa e criação. Por isso, a matriz curricular do doutorado, efetivamente focada na produção orientada de conhecimento e inovação, terá o mínimo de cursos.
Em todos os níveis, componentes curriculares serão organizados não por titulação, mas por nível de profundidade. Flexíveis, estarão abertos a qualquer aluno, de graduação ou de pós, que demonstre estar habilitado a cursá-los.
Enfim, haverá relativa autonomia entre processos formativos e processos avaliativos (exames de qualificação, teses e dissertações), com bancas compostas por examinadores externos aos programas, que, excluindo o orientador, permitirão maior controle de qualidade acadêmica.
Essas propostas articulam soluções consagradas em países com tradição universitária consolidada. A estrutura curricular mínima define o modelo inglês de doutorado.
A centralidade do trabalho de pesquisa, criação ou inovação inspira-se no modelo alemão. A sequência de exames de qualificação tem como referência o modelo norte-americano dos “graduate studies”. A avaliação da tese por examinador externo antes da defesa tem base no modelo francês, com a figura do “rapporteur”.
Renovada, a arquitetura curricular dos programas de pós-graduação será mais orgânica ao ciclo atual de crescimento da pesquisa nacional. Isso facilitará a inserção internacional da universidade brasileira, contribuindo para o desenvolvimento soberano do país.
NAOMAR DE ALMEIDA FILHO, pesquisador 1-A do CNPq, é professor titular do Instituto de Saúde Coletiva e do Instituto Milton Santos de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia, da qual foi reitor.
—
denise coutinho
instituto de psicologia
universidade federal da bahia
denisecoutinho1@gmail.com / dmbc@ufba.br
tel: (55 71) 8821-5491
salvador-ba brasil
—
Antonio Virgilio Bastos
Instituto de Psicologia / Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público – ISP
Universidade Federal da Bahia
Tel: (71) 3283-6477
_______________________________________________
Apubdebates-l mailing list
Apubdebates-l@listas.ufba.br
http://www.listas.ufba.br/cgi-bin/mailman/listinfo/apubdebates-l
—————————————————————-
Universidade Federal da Bahia – http://www.portal.ufba.br
_______________________________________________
Apubdebates-l mailing list
Apubdebates-l@listas.ufba.br
http://www.listas.ufba.br/cgi-bin/mailman/listinfo/apubdebates-l
novembro 24, 2010 às 8:09 pm |
Circulou na lista Debates-l da UFBA:
Naomar, Marcos Palacios e demais colegas,
Tenho acompanhado com atenção o debate proposto por Naomar e que julgo
de grande importãncia, não só para nossa universidade, mas para as
universidades brasileiras.
Estou em estágio pós-doutoral na Espanha e tb tive oportunidade de
“ver de perto” o funcionamento e alguns produtos de cursos de mestrado
e doutorado, inclusive de alguns doutorandos que fizeram “sanduiche”
em outros países (Itália, inglaterra etc.), e penso que, como Marcos,
nossos cursos de pós-graduação nada devem aos da Europa pós Bolonha.
Acho sim , como Marcos, que podemos nos orgulhar de nossos cursos.
Eu não ia responder pq achei que nada tinha de novo para propor, mas
depois julguei importante dizer que concordo plenamente com a idéia do
mestrado profissionalizante. Não raras vezes me deparo com alunos ou
ex-alunos que gostariam de continuar os estudos mas que dizem não
querer a carreira acadêmica e não ter vocação para a pesquisa.
No ano passado, no nosso programa (Psicologia), começou-se a discutir
a proposta de um mestrado profissionalizante que parece ter uma boa
aceitação na CAPES e no CNPq. Creio que se essa discussão puder
agregar os vários cursoa que têm esse interesse, poderíamos ter um
movimento mais geral e bem estruturado.
Abç,
Marilena Ristum
Instituto de Psicologia
—————————–
—–Mensagem original—–
De: debates-l-bounces@listas.ufba.br
[mailto:debates-l-bounces@listas.ufba.br]
Em nome de ristum@ufba.br
Enviada em: terça-feira, 23 de novembro de 2010 09:18
Para: Marcos Palacios
Cc: apubdebates-l@listas.ufba.br;
grupojol@googlegroups.com;
José Afonso Jr; debates-l@listas.ufba.br
Assunto: Re: [Debates-l]
[Apubdebates-l] Debate sobre Artigo na Folha
novembro 24, 2010 às 9:38 pm |
Circulou na lista Debates-l da UFBA:
——————————————
Para alimentar a discussão iniciada pelo artigo do Prof. Naomar de Almeida Filho sobre possíveis reformas na pós-graduação no Brasil, recomendo a leitura do livro-coletânea recém-publicado pela ed-factory (http://www.edu-factory.org/wp/) intitulado:
La Universidad en conflicto: capturas y fugas en el mercado global del saber.
De especial interesse para nossa discussão é o artigo:
Mercantilización y precarización del conocimiento: el proceso
de Bolonia, de autoria de Xulio Ferreiro Baamonde.
O livro pode ser baixado livremente, em formato pdf, em:
http://www.edu-factory.org/wp/wp-content/uploads/2010/11/la_universidad_en_conflicto.pdf
Saudações,
marcos palacios
————–
De: debates-l-bounces@listas.ufba.br
[mailto:debates-l-bounces@listas.ufba.br]
Em nome de Marcos Palacios
Enviada em: quarta-feira, 24 de novembro de 2010 05:43
Para: debates-l@listas.ufba.br;
Grupojol; facom-l;
apubdebates-l; COMPÓS Lista;
sociosdasbpjor@yahoogrupos.com.br
Assunto: [Debates-l]
Mais sobre o modelo de pós-graduação e crítica a Bolonha
maio 24, 2011 às 6:17 am |
Though I don\’t agree with you in details, your post is insightful
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fifteen1986@gmail.com
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