0026 – Os quatro secretários

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Menandro Ramos
Prof. da FACED/UFBA

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carta de um professor da rede estadual de Educação, ou melhor, o seu pedido de socorro, inspirou os quadrinhos do meu amigo Saci. Por outro lado, as “tirinhas” do meu amigo de gorro vermelho e pito me fizeram refletir longamente nas contradições do real e na irrealidade do mundo.

Só agora me dei conta do momentos histórico que estamos vivendo: a UFBA tem quatro professores, QUATRO! -, licenciados da docência que estão colaborando com o governo estadual. Quatro professores da mais alta competência, doutores qualificados, afeitos às questões da Educação e o escambau. Praticamente, quatro mosqueteiros ou espadachins de alto coturno que sabem das coisas da política, da administração, da comunicaçõa, do planejamento, da economia, que fizeram parte do alto cardinalato da UFBA etc e tal. Mais do que simples secretários, certamente quatro doutos conselheiros capazes de prover o colendo governador do Estado do que ele precisa para fazer uma belíssima e democrática gestão.

No entanto, parece que algum ruído está ocorrendo entre a comunicação dos ilustres docentes e o atual inquilino do Palácio de Ondina. Certamente está. Do contrário, como explicar a indiferença do governador por uma greve que caminha para o terceiro mês, sem a menor perspectiva de uma solução razoável para o conflito entre o executivo estadual e os trabalhadores da educação?

O quadro se agrava mais ainda e as esperanças vão para o beleléu, se pensarmos que um dos professores citados é o titular da pasta da Educação, e o outro, provavelmente, é postulante ao cargo que hoje ocupa o governador Jaques Wagner. No caso do último, o que esperar de um candidato que tem como escola a indiferença pelas coisas da educação?

Recebi a sugestão de fazer um apelo ao titular da Secretaria do Planejamento, já que o atual secretário da Educação, ao que parece, não é candidato a nada. Assim, atendendo à solicitação que nos foi feita, exortamos ao futuro candidato a governador da Bahia que não queime antecipadamente sua campanha. Que se engaje em favor das justas reivindicações dos docentes da rede estadual de ensino, desses construtores do futuro do Estado da Bahia!

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Já o meu amigo Saci, escrachado que nem ele, preferiu apelar:

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Abaixo, a carta do docente que sensibilizou o Saci:

“ORA PRO NOBIS…

Lendo uma postagem de uma colega a respeito da indiferença da sociedade frente à GREVE DOS PROFESSORES DO ESTADO DA BAHIA, fiquei incomodado com essa apatia da população, do Ministério Público, das Igrejas, da CNBB, dos Artistas Baianos, da Mídia, ao mesmo tempo preocupado com os desígnios da educação neste estado.

Não faz muito tempo que a sociedade baiana viveu momentos de apreensão e insegurança com a greve dos PMs. É fato que todos nós desejávamos que essa manifestação tivesse logo um desfecho tranquilo e que esses profissionais retornassem aos seus postos com as suas reinvindicações atendidas. Todavia, fora preciso que o trânsito parasse, que lojas e supermercados fossem saqueados, que a força de segurança nacional fosse acionada; que o número de homicídio aumentasse e que ameaçasse o CARNAVAL dos empresários, dos blocos, da rede de hotelaria, dos turistas, da Rede Globo, da Band, do Chiclete, da Ivete…

E a greve dos professores ameaça a quem mesmo? À Lei de Responsabilidade Fiscal? Às Eleições Municipais ou ao Ano Letivo dos alunos? Parece-me que este último não tem grande força em comparação ao carnaval, haja vista a posição arbitrária e atroz desse governo ao cortar direitos e salários de um classe tão massacrada, mas fundamental para o progresso de uma Nação.
Quem realmente está se importando com a educação neste estado? Onde estão os movimentos estudantis, os pais dos alunos, as Igrejas, a oposição, as forças sindicais, os magistrados e promotores, a mídia, as redes sócias (os “facebookeiros”), que não abraçam essa causa? Será que essa nossa luta não é justa? É insano um aumento de 22,22% comparado aos 61,8% que os próprios deputados se presentearam na véspera do Natal (23/12/2010). Esse aumento estava no orçamento do ano subsequente (2011)?
A propósito, quanto custa um deputado estadual somando-se salário + verba indenizatória + verba de gabinete? Cada deputado estadual baiano custa aos cofres públicos cerca de R$ 114 mil por mês (existe carga horária? há assiduidade? comparecem às sessões regularmente?) e todos juntos significam mais de R$ 87 milhões ao ano. O valor do orçamento da Assembleia Legislativa previsto para 2012 é de R$ 351 milhões.

O que significa esse valor frente a um salário de um professor Licenciado de 40 horas, padrão P e grau I, que recebe seus “milagrosos” R$ 1.659,94? (tabela Maio/2012).
Além do mais, quanto é repassado do FUNDEB e gasto com o a folha de pagamento de professores? Quanto custam as propagandas do governo em horário nobre de televisão e nos mais diversos meios de comunicação? Por que não se tornam públicas as informações sobre a execução orçamentária e financeira da Assembleia Legislativa? Por que essa blindagem toda com as contas públicas? Por que as contas da Assembleia Legislativa da Bahia (AL) não são julgadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) há mais de cinco anos? Por quê…?

Se com a greve dos policiais não houve urgência em resolvê-la mesmo com os holofotes da mídia e repercussão em todo o mundo, cobrando uma ação eficaz do governo, que atitude se esperar desse governo em face à greve de professores de escola pública? (inviabilizar o ano letivo? Pressionar os professores não pagando os salários…?). A sociedade cobrou uma solução urgente para a greve dos PMs por achar que eles merecessem um salário digno ou por que as suas vidas e o seus patrimônios estavam correndo riscos?

E os nossos alunos que riscos causam à sociedade? Que prejuízo causam aos cofres públicos? O que significa o aluno na sala de aula para o governo senão números e cifras? A propósito, como anda o IDEB da Bahia?

Ora, colegas, se a nossa greve não repercute, de imediato, na economia, na segurança, na bolsa de valores…, infalivelmente trará sérias consequências, no futuro, para toda a sociedade. Crianças e jovens sem aula hoje é caminho para drogas amanhã, para a violência, para o fracasso profissional…

Educação sem qualidade, sem ambiente adequado, sem valorização e respeito para com o PROFESSOR, isso sim é um dos maiores crimes que se pode cometer, pois não só se perdem vidas, mas, sobretudo perde-se o direito de APRENDER E CRESCER COMO UM VERDADEIRO CIDADÃO.”
“…Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais…” (C. Veloso)


Evando de Oliveira
Professor da Rede Estadual de Educação

Riachão do Jacuípe-BA

3 Respostas to “0026 – Os quatro secretários”

  1. Regina Célia Says:

    Inspirado e fofo Saci!!!
    Quando os próceres das instituições públicas se tornam mercenários e se vendem ladinamente ao capital ou aos partidos políticos adaptados ao sistema, a flor da esperança murcha… É preciso buscá-la urgentemente em outras campinas!!! Não tenho mais ilusões sobre alguns deles que nutriram minha juventude de boas crenças…
    Grande beijo,
    Regina

  2. Saci-Pererê Says:

    Circulou na lista da UFBA:
    —————————-

    Data: Quarta-feira, 27 de Junho de 2012, 10:43

    POIS É!!
    podes acesssar diariamente o blog dele!! está em altissima produção dado a greve!

    ele colocou essa tua mensagem que havia recebido anteriormente!!

    Tamos agitando a participação no 2 de julho e pensamos fazer uma feijoada na FAc de Medicicina do Terreiro ao final!!

    abraços,

    altino

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    — Em qua, 27/6/12, sinval malta escreveu:

    De: sinval malta
    Assunto: RE: A UFBA tem 4 secretários de Estado
    Para: “altino bojr”
    Data: Quarta-feira, 27 de Junho de 2012, 10:21

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    Altino,

    Achei demais o SACI. Realmente sem humor não há salvação!
    Sinval.

  3. Zildo Correia do Sacramento Says:

    Cara, essa carta me fez postar um comentário no face e colocar o link deste site… é importante compartilhar essas questões.
    Abraço,
    Zildo

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