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O que tem a ver uma cerveja no teclado do rico piano de cauda da Reitoria da UFBA e a privatização que rola solta de cabo a rabo? Maluquice do Saci?
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Menandro Ramos(*)
Prof. da FACED/UFBA
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essa vez, o meu amigo de gorro vermelho e pito foi longe demais. Apresentou-me um meme contendo o piano do Salão Nobre da Reitoria da UFBA e uma lata de cerveja sobre o teclado do mesmo, e foi logo dizendo que “ali estava a semente da privatização da res publica”.
Sentindo-me o mais estúpido dos mortais, forcei uma exegese daquela composição visual, e ele prontamente se dispôs a me esclarecer.
– Seguinte, chefia! Cê lembra de uma vez que me contou que umas formandas do Curso de Pedagogia da FACED desistiram de usar o piano de cauda da Reitoria da UFBA, durante a solenidade de formatura realizada naquele local, porque teriam de pagar uma nota violenta pelo “aluguel” do tal instrumento?
– Não entendi! Cê fumou cogumelo venenoso com esterco de vaca no seu cachimbo, ô pilantra?
– Calma, apressadinho! Sem violência! Não foi você que me contou que uma vez foi a um casamento de um amigo, realizado na igreja do Museu de Arte Sacra da UFBA? Você se lembra que quando questionei se era possível realizar um casamento num museu de uma instituição federal, você me respondeu que qualquer um poderia fazer uso daquele espaço desde que pagasse? Ou seja, que podia fazer uso privado do espaço público?
– Continuo sem entender onde você quer chegar!…
– Muito simples, chefia! Há muito tempo que as sementes de privatização da res publica vêm sendo plantadas e regadas, e da forma mais inocente possível… Totalmente casta! É a justificativa de que o piano da Reitoria precisa ser alugado mesmo, pois a afinação do dito cujo custa os olhos da cara; é a razoabilidade da defesa do aluguel do espaço do museu para custear o combate aos cupins, pois os recursos federais estão cada vez mais limitados… E por aí vai!
– Ué! E onde entra a lata da cerveja no precioso teclado do piano, esse ato vândalo, praticamente, de verdadeira profanação contra tão belo e requintado instrumento?
– Ah! Chefia! Você também é muito limitado cognitivamente! Isso é apenas uma metáfora hiperbólica para despertar a atenção do público e, ao mesmo tempo, estabelecer um elo no quem vem acontecendo sob a batuta do prefeitinho de Salvador, há muito picado pelo mosquito da privatização, e o expediente utilizado pelos gestores da Pátria Educadora, também picados pelo mesmo mosquito… Desafio quem nega que a capitulação do Dem perante a ordem do capital é diferente da sujeição do PT!!…
– Traduza isso aí, Saci! Não sou obrigado a adivinhar o que passa por sua cabeça empanturrada de teorias da conspiração…
– Simples, toupeirinha, simples! A alegação do prefeitinho vai pelo mesmo caminho: ele diz que sem um patrocinador, não se pode pagar os músicos que cobram valores pela hora da morte para tocar no maior Carnaval do Planeta… Sendo assim, é mais do que justo que a empresa patrocinadora tenha o monopólio da venda da sua cerveja no espaço público. Tão simples assim!
Joguei a toalha. Dizer mais o quê? Filho da mãe esse Saci!
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Coincidência ou sincronicidade como dizem os junguianos, minutos depois, eu lia uma postagem enviada pelo Prof. Francisco Santana para a lista “debates-l”, cuja leitura nos autorizava a pensar no caráter privatista ou semi-privatista de alguns reitores da ANDIFES, e muito provavelmente das IFES, cujas dúvidas em defender a Universidade Pública ficavam escancarada:
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), criticou a alteração, pois a cobrança em cursos de pós-graduação lato sensu e em mestrados profissionais em universidades públicas não tem consenso dentro da comunidade acadêmica. Alice citou como exemplo a Associação Nacional Dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) que não teria posição firmada sobre o tema e a Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) contrária à cobrança. “Porque aligeirar-se numa decisão onde a comunidade universitária não tem consenso sobre a questão?” (Leia mais AQUI).
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Não tive como não pensar no Congresso da UFBA que se avizinha. Qual o seu propósito mesmo? Conformar a comunidade universitária de que nada mais é possível fazer, a não ser nos transformarmos em piedosos coveiros da UFBA Pública, Gratuita, ou seguirmos à risca a assertiva do tual reitor, Prof. João Carlos Salles, que disse meses atrás que “A UFBA não pede socorro, luta”?
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(*) – Este texto é dedicado a D. Celsina de Castro Ramos, que me ensinou a nunca desistir de lutar. Se viva, estaria comemorando os seus 100 anos de nascimento! Parabéns, mãe querida! Muita Saudade! Salvador, 19/02/2016.
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