368 – O mecenato da APUB
O mecenato da APUB
Menandro Ramos
Prof. da FACED/UFBA
“Era no Dous de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
Neste lençol tão largo, tão extenso,
Como um pedaço roto do infinito …
O mundo perguntava erguendo
um grito: Qual dos gigantes morto
rolará?! …”
Castro Alves
u cheguei a elogiar a iniciativa da APUB por estimular um concurso de arte. Até me surpreendi com o treco, pois a censura iniciada pelo ex-presidente e cientista político Israel Oliveira Pinheiro, na sua pouco saudosa gestão, nada tinha a ver com a arte, mas, sim, com a vil censura. Para mim, a APUB ainda teria jeito, apesar dos pesares e da banda estragada… Porém, o Saci me alertou a tempo.
– Até você, chefia? Então a APUB deixa de lutar pelos trabalhadores da educação, aliando-se ao Proifes governista, e, de repente, passa a incentivar as atividades artísticas como disfarce… Faça-me uma pizza palocciana! E você ainda come essa? Aonde é que vamos parar? Um professor universitário alienadão da silva!…
Já meio envergonhado, tentei me explicar, mas ele não me deixou nem abrir a boca.
– Conversa fiada! Igualzinho está fazendo a nossa ex PETROBRAS. Igualzinho. Sem tirar nem por. Quando pode reduzir o preço dos combustíveis, pela autonomia de produção e sofisticação tecnológica, não o faz, mas abre os braços para o mercado, e escancara-se para os acionistas transnacionais. Depois, vem com o papo de estimular a cultura nacional, patrocinar filmes, quermesses, batizados de bonecos de papel nordestinos, nortistas, sulistas “por meio de uma política de patrocínio de alcance social, articulada com as políticas públicas para o setor e focada na afirmação da identidade brasileira”. Me poupe, chefia! Muito me admiro de você se deixar levar pela gaiva cultural…
Forcei a Barra. Alterei o meu tom de voz, e tomei, na marra, a palavra.
– Um momento Saci! Também a coisa não é assim. Admitamos que essas pequenas astúcias marketeiras estejam embutidas no jogo. Tudo bem. Mas é impossível não admitir que nessa quebra de braço, dialeticamente, não surjam coisas boas…
– É justamente esse o ponto, mô chefe. Quem não concorda que o “Criança Esperança Global” também traz benefícios para algumas crianças desassistidas pelo poder público, pelo Estado omisso e burguês? Quem nega que o envolvimento desses jovens com a capoeira, o esporte, o balé, a música clássica ou popular os livrará das drogas, da bandidagem?… Quem discorda?
– Tudo bem, Saci, também não sou tão trouxa para não pensar nessas coisas que você está dizendo…
– Começou a pensar, mas não prosseguiu. Pensar cansa, dá trabalho, traz sequelas… Traz perdas pecuniárias para o intelectual autêntico. Veja se a UFBA quer pensar no que estão fazendo com a educação brasileira, com a educação baiana… Olha aí o BI, a Universidade Nova, o Reuni…
– Alto lá, pilantra! A UFBA pensa e muito, e eu posso dar o meu testemunho disso! Tá pensando o quê? E sabe o que mais? Vá pra…
Ágil, o pilantra me interroupeu. Diante da minha explosão, ele aveludou a voz.
– Calma, chefinho, olhe a sua pressão… Só quero dialogar… Nada mais!
– Dialogar? Você está ofendendo a UFBA e isso eu não vou permitir…
– Um momentinho! Não tô ofendendo ninguém… Muita calma nessa hora! Vamos apenas trocar ideias, sem estresse, sem xingamentos, com classe… Aliás, com “classe”, não! Isso é jargão da elite… Digamos, com respeito mútuo…
E assim ele foi me acalmando, me chamando para o terreno da tolerância, da razoabilidade e foi expondo o seu aguçado ponto de vista.
Não sei por quanto tempo ele falou exatamente, mas garanto que não foi menos de duas horas. Falou, falou, falou e me convenceu. De fato, o benefício da dúvida acabava beneficiando os mecenas de ontem e de hoje…
Após o papo cabeça que tivemos, não pude deixar de me lembrar das práticas do mecenato que a história registra, e do ganho político com o investimento cultural. Monumentos públicos grandiloquentes, chafarizes, avenidas largas, arcos do triunfo, monumentalidade arquitetônica e todos os sedutores artifícios de conquista e manutenção do poder, e da criação da “aura” de simpatia, de sensibilidade pelas coisas do espírito… Assírios, babilônios, medos, persas, caldeus, egípcios, gregos e romanos, entre outros da antiguidade… Ah! Os grandes monumentos de forte apelo visual! Sem falar das seduções nazifascistas de memória recente e do neo-encantamento imperialista da atualidade. Hollywood, Disney World, Euro Disney, não me deixam mentir!…
Tudo bem que a APUB até descambasse para o marketing cultural, mas que fizesse antes o dever de casa, que encarasse a dura realidade intergiversável: sindicato é para lutar!
As “reguladas” que tomei do Saci me fizeram enxergar com mais clareza, sem as lentes embaçadas da ideologia e da justificativa cultural astuciosa…
A pintura do grande Presciliano Silva, artista baiano, fora “remixada”. Sobre ela um genérico “Viva o 2 de Julho”. Mais uma vez, o benefício da dúvida estaria favorecendo a atual APUB proifiana. Quem de sã consciência condenaria “a entidade ex-sindical e agora associação beneficente” – segundo o Saci – , por louvar a data magna da Bahia? Quem?
E, mais uma vez, o Saci viria em meu socorro:
Terá um dia a APUB proifense “energia” suficiente para lembrar ao governador Jacques Wagner, ao seu partido de sustentação & coligados que o Aeroporto Internacional de Salvador continuará sendo “2 de Julho” quando a memória de negros, de índios e de brancos do povo – que lutaram de fato pela nossa Independência -, for respeitada? Terá coragem?
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Apub publica edital de concurso de arte
O Apub Sindicato publicou, nesta sexta-feira (1), o edital do concurso de ilustrações para o calendário 2012 da entidade. Podem se inscrever alunos(as) de graduação e pós-graduação, com até três trabalhos cada. Serão escolhidas seis imagens para compor a peça e os selecionados serão premiados. O tema é A vida universitária. (Do site da APUB).
julho 2, 2011 às 1:50 pm |
Alguém me mandou uma mensagem indagando se não seria melhor como título:
– O “mercenato” da APUB –
E eu respondo: talvez sim, talvez não! O tempero fica por conta do gosto do Leitor ou da Leitora!… E que os dicionários registrem mais uma palavra!
julho 2, 2011 às 8:22 pm |
Sou pelo meRcenato da ex-APUB. Quando vamos o Sindicato?
Tavares-Neto
Medicina
julho 2, 2011 às 8:25 pm |
Digo: Quando vamos criar o novo Sindicato? Na Bahia e em outras terras pelegas, os Docentes estão desamparados!
Tavares-Neto
Medicina