931 – As armadilhas do governo

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ANO-ELEITORA-PTReciclando imagens das propagandas do governo que custam rios de dinheiro do povo, o Saci tenta botar a moçada para pensar…

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Menandro Ramos
FACED/UFBA

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Arte é um dos grandes trunfos do poder. Não é de hoje que a sedução através  dos sentidos é exercida. A boa música cativa, enleva, deslumbra. O mesmo pode ser dito de outras manifestações artísticas. Dito isto, conclui-se que a Arte tanto liberta quanto aprisiona. Nesse caso, o fazer artístico nunca é neutro. Ainda que o artista possa se iludir assim pensando. A mesma coisa ocorre com a Ciência.

Este ano, o grande homenageado pelo bloco Mudança do Garcia foi Riachão. Além de ser morador do bairro, o cantor e compositor baiano tem muito samba no pé. Sambista de mão cheia – ou de pé farto! -, e de incrível musicalidade e ritmo, Riachão, por outro lado, não morre de amores pela política. Pelo menos como ela aqui é praticada. Inúmeras vezes o vi nas proximidades do Desembanco, com uma toalhinha no pescoço e sorriso largo. Pura simpatia. Depois, soube que era contínuo daquele banco. Se é verdade que ele “fez média” com ACM e outros políticos,  para divulgar seus trabalhos e ganhar uns trocados a mais, como alguns dizem, os ditos cujos também se aproveitaram da popularidade do sambista para parecerem sensibilizados pela cultura popular. Não é de hoje que os mecenas pintam uma boa imagem de si próprios patrocinando inúmeras manifestações artísticas.  Como o artista se alimenta, dorme e se abriga debaixo de um teto, dificilmente vai poder recusar um patrocínio, qualquer que seja a fonte do dinheiro. Na maioria das vezes, forma-se uma relação simbiótica: o artista é beneficiado pelo poder, e este se fortalece, aumentando a projeção do seu espectro. Contemporaneamente, pode-se pensar no “mecenato” das empresas – privadas ou estatais – como é o caso da Globo, da Petrobrás. Em ambos os casos, o propósito é fazer uma boa imagem institucional perante o público.

Riachão

E

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ntretanto,  nesse toma-lá-dá-cá de mecenato, de patrocínio, de raio que o parta, exageros podem acontecer. E até obscenidades. Mas a imoralidade não está no fato de o artista auferir algum benefício, mas no despropósito de o próprio contribuinte ter que bancar a orgia da propaganda para beneficiar outrem tão-somente. Em outras palavras, os que envergam o poder – político, econômico, religioso -, podem fazem mesuras com o chapéu alheio e, no final, mandar a conta para o público pagar. A campanha “Criança Esperança” ilustra bem o que se quer dizer. As contas da visita do Papa Francisco ao Brasil, idem.

Também na política se vê muito isso. É o caso do governo Wagner, juntamente com seus partidos coligados, que em nada se diferem do carlismo, representado  no passado pelo finado Cabeça-Branca, que tanto criticaram. Não fizeram senão, depois que ocuparam o Palácio de Ondina, seguir o mesmo caminho dos ditos adversários. Há quem diga que estão mancomunados para alternar o mando…

E, assim, nesse pega-larga, vão se fazendo. Tudo, claro, em nome da cultura, do mecenato, do patrocínio cidadão. Na surdina, vão tentando cooptar artistas, lideranças comunitárias e o escambau.  Veja o caso do Mudança do Garcia, um bloco sem cordas, com uma tradição de décadas já firmada de fazer críticas aos costumes, aos políticos,  ao poder truculento, ao sistema, enfim. De mansinho, os petistas e coligados vão patrocinando camisas, serviços de som, carros alegórico, ou outra arapuca qualquer, aqui é acolá. E vão tentando cooptar os organizadores e participantes dos eventos culturais. Em troca, vão afixando suas propagandas nos veículos do cortejo e matando, aos pouco, o que o Bloco tem de melhor e de mais autêntico, que é o seu espírito crítico e insurgente.

Pode ser que consigam, pode ser que não. O tempo vai dizer.

cooptação-riachão

2 Respostas to “931 – As armadilhas do governo”

  1. Menandro Ramos Says:

    Recebi do Prof. José Roque, do Instituto de Química/UFBA:
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    “Contrariando SACI, o clima político indica tempo bom para Wagner, mesmo com um governo que não agrada Menandro. O continuísmo dever-se-á à falta de uma oposição que caia no gosto do povo. Portanto, a dedada vai continuar. A zoada de SIRI só se escuta muito baixo na orla de Salvador. Sou contra o continuísmo. Os cartazes da mudança do Garcia não repercutirão nas urnas. Quem já votou em Wagner irá votar nulo, ou em partidos nanicos. Votar em Paulo Souto e/ou Gedeel será um erro político.
    JOROMOTA.”

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    Sinceramente, prof. Roque, apesar de não votar nos dois últimos políticos mencionados, não sei o que que o Sr. chama de “erro político”. Acaso não seria também um “erro político” votar no partido do governador? Ou o Sr. acha que o partido dele continua nutrindo as esperanças que nutriu na década de 1980, Inclusive para mim?

    O arguto Prof. Francisco Santana tem uma tese. Quem sabe ele não esteja certo…

    Para o Prof. Santana, o candidato verdadeiro de Jaques Wagner é Paulo Souto. Nesse caso, Rui Costa, o candidato oficial do partido é só de fachada. Por que Paulo Souto? Por uma razão muito simples: Souto não tem maiores ambições, é um bom menino, é bem mandado e esquentaria a cadeira com fidelidade para ACM Nato. (Assim mesmo: “Nato”). Isso porque Rui Costa é inexpressivo e com um perfil de um perfeito “laranja” para perder e ficar feliz da vida, com o sentimento do “dever cumprido”. Se o Prof. Francisco tiver certo, fica claro do porquê de Sérgio Gabrielli não ter sido o candidato, quando tudo apontava que seria ele. O que significa dizer que se fosse Gabrilli o candidato, e se lograsse êxito na sua campanha, certamente daria o maior trabalho para querer sair do Palácio de Ondina…

    Que fique bem claro que a escolha de Paulo Souto não é pela sua competência e honestidade como pessoa (alguns que o conhecem de perto dizem que ele é honesto – pessoalmente nada sei e estou pouco interessado em saber). A escolha se deu pelo seu desapego ao poder. Alguns preferem dizer “subserviência”.

    Se o Prof. Francisco Santana estiver certo, talvez a perplexidade da vitória de Wagner no primeiro mandato seja explicada, quando ninguém esperava que acontecesse. Ou seja, o carlismo fez um acordo pela alternância do poder com o partido do governo… Para uns, melhor do que “manipular” urnas eletrônicas. Audácia teriam. Vide o Painel Eletrônico do Senado e o caso dos grampos eletrônicos.

    Lembro aqui que o Prof. Santana tem acertado muitas vezes as “pedras cantadas”. Inclusive acertou quando previu que ACM Nato sentaria no trono do Palácio Tomé de Souza. O Prof. Milton Santos chama isso de clarividência.

    Se tudo isso fizer sentido, fica explicado também porque somos “patos” e nem de longe suspeitamos…

    Isto posto, Prof. Roque, despeço-me.

    Atenciosamente,
    Menandro

  2. P. Bispo Says:

    Interessante a tese do Francisco. Nesse Brasil surrealista, não duvido mais de nada. O que, por outro lado, explicaria o ferro que o Grampinho deu no Nelson Peleguinho…

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