An Essay Concerning Human Understanding

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PALACIOS-2015

O Saci trocou tudo. O que se vê acima não é o governo brasileiro discursando, mas um docente da UFBA lançando luzes sobre a Greve Educadora para a posteridade…

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O Saci confundiu tudo. Na pressa, trocou o discurso da presidente Dilma, na ONU, pela postagem que um preclaro professor da UFBA redigiu para a debates-l. Quando lhe chamei a atenção da troca de bolas que fizera, autorizou-me a manter o texto trocado:

– Pode manter essa postagem chefia. Afinal, a guerra sindical e as guerras imperialistas são temas que poderiam, tranquilamente, ser tratados na ONU. E depois, a visão que o colendo professor tem sobre a greve, merece – sem favor! – constar em qualquer tratado sobre o entendimento humano… A posteridade agradece!

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D.

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e fato, a estas alturas, sair da greve parece mesmo absurdo.

Concordo plenamente.Tem-se agora menos do que quando a greve começou (descontado, obviamente, o imenso ganho de “educação das massas” no processo, segundo algumas óticas).
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Aliás, assinale-se que na greve anterior os parcos ganhos (?) foram fruto das negociações dos “pelegos proificistas”, como vêm sendo chamados reiteradamente nesta Lista. Ou não?
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Melhor então que a greve seja declarada “permanente“. Se existe a figura da “assembléia permanente”, por que não “greve permanente”?  As vantagens são inúmeras: a Universidade parada diminui despesas do Governo (bom para Levy!), a geração de conhecimento esmorece (economizando papel, tinta e produtos de laboratório), os docentes podem continuar em férias remuneradas e os estudantes atrasando sua formação, porém mais livres para as baladas. O setor privado da Educação agradece agradece pela suspensão de concorrência das universidades públicas, que certamente levara mais água (uups, estudantes) para os moinhos das uni-esquinas, que já podem anunciar em seus outdoors, que ali ninguém pára e que quem entra sabe quando vai sair formado….
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Os estudantes mais ricos hoje matriculados nas Federais tem opções: esperar que um dia as aulas voltem (até lá papai banca o descanso) ou pensar em fazer um curso paralelo (inglês na Austrália?) enquanto a greve perdura; quanto aos mais pobres, beneficiados por políticas inclusivas e que, a duras penas, tentam enfrentar as dificuldades de uma formação universitária, paciência, nada a fazer. Afinal, nas guerras -mesmo sindicais – sempre há “vítimas colaterais”, não é mesmo?
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Fica a proposta: “greve permanente” com a emenda “enquanto estiverem nos pagando, ainda que mal”.
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Ou, alternativamente, que tal aceitar o fato de que qualquer forma de luta para surtir efeito tem que trazer prejuízos para aqueles a quem se presta o serviço (param os metalúrgicos por alguns dias e perdas de lucros podem  montar a centenas de milhões; param os motoristas de ônibus e semeia-se o caos urbano, etc, etc). E os docentes da UFBA quando param a quem atingem?A quem causam prejuízos? O que a retirada dessa prestação de serviços causa de desconforto? Há outras formas de ação disponível para os docentes e que possam causar reais desconfortos extra-muros universitários? Se não há, faz-se mister inventá-las, pois claramente as greves não estão atingindo esse objetivo, desde há muito. Continuam existindo, em nosso meio, por falta de inventividade de novas formas de luta e por um efeito de inércia política.
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Quando vivíamos sob uma ditadura, qualquer greve (inclusive de docentes!) tinha um forte conteúdo político, pelo simples fato de ocorrer, de representar um enfrentamento ao sistema. Fiz greves, freqNos dias que correm, ainda que de democracia imperfeita, o efeito de contraposiçao política virou fumaça. Em nosso caso, o Governo sequer se digna a negociar, senão através de prepostos de segundo escalão, para informar que oferecem menos do que estava na mesa até dias atrás. A sociedade solenemente ignora a greve e segue sua vida.
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Não tenho, obviamente, soluções para o impasse, já que formas novas de luta só podem emergir da vivência, da crítica e da auto-crítica dos próprios atores envolvidos. O primeiro passo, no entanto, é aceitar que o impasse existe e que a greve não tem como surtir efeitos, na atual conjuntura, por mais que perdure.
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Vamos seguir em greve permanente? Dar uma trégua e começar novamente em março? Ou agosto? Propor paralisações antecipadamente calendarizadas de três em três meses? Tais alternativas, sempre gerarão longas férias remuneradas, é claro. O que já não é pouco, quando se está insatisfeito com o que se ganha…
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E quantos aos estudantes menos favorecidos? E quanto à geração de conhecimentos? E quanto à universidade em pleno funcionamento enquanto espaço público gerador de opiniões e lideranças?
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Ora, ora, novamente esse assunto? 
Bolas!
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Saudações,
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marcos palacios
FACOM/UFBA
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OBS.:
1.A postagem do docente, acima, foi transcrita da lista "debates-l".
2. O crédito do pensamento "A man must cast his own shadow! é de Ursula le Guins.

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