– O rei peladão, peladão!

 

Essa foi a minha resposta há 6 anos à Universidade Nova da qual o Reuni é um detalhe.:

A Roupa Nova do Rei Thor

 

Francisco José Duarte de Santana Prof. da UFBA (Aposentado)

 

Aconselho aos que não leram, lerem o conto de Hans Christian  Andersen, para entenderem esse projeto de Universidade Nova. Naquele  conto, uns vigaristas espertalhões iludiram o rei e toda a corte além do público crédulo, vendendo um modelo de roupa lindíssimo inexistente,  usando o incrível “marquetingue” de que só os inteligentes eram capazes  de ver tal beleza, os néscios não a enxergariam. No final, graças a uma  criança que como tal, era desprovida de hipocrisia, descobriu-se que o  Rei estava nu e que a tal roupa era uma mentira.

No caso da Roupa Nova, o Rei foi ludibriado pelos vigaristas. No  caso da Universidade Nova, os reitores são cúmplices da vigarice.

Esse não é o primeiro “conto do vigário” em matéria de educação ou  ensino perpetrado pelas autoridades aboletadas no ministério de educação e como tais representantes políticos institucionais de altos interesses contra o ensino público brasileiro.

Assim como os outros contos do vigário, esse da Nova Universidade  será esquecido, mas seus arquitetos serão promovidos na escala de poder  político e de confiança e fidelidade dentro do sistema.

Não há diferença desse conto do vigário para o da Roupa do Rei de  Andersen, ou de qualquer conto do vigário como o conto do bilhete  premiado, o conto do paco, ou esses golpes dados na praça com  loteamentos no papel, propagandas luxuosas, mas quando vai-se ver no  local, o terreno não existe. Aliás o folder do plano de saúde da APUB  tem uma vigarice desse tipo: ele afirma que as decisões são tomadas em  assembléias democráticas quando os atuais dirigentes da APUB  e do plano saúde, acabaram com o poder dessas assembléias; mas essa é outra  história.

Como dizia, já existiram outros contos do vigário patrocinados pelo  MEC. Um dos mais recentes deles parece que seus participantes já o  esqueceram. Foram os famosos PCN ? Parâmetros Curriculares Nacionais.  Segundo os vigaristas, esses PCN revolucionariam a educação no Brasil  adaptando-o aos novos tempos e colocando-o na vanguarda de todos os  países do mundo. E se lembram do resultado?

Hoje, o ensino fundamental brasileiro é um dos piores do mundo, pior de que muitos países da África. E os países da áfrica têm um problema  sério na alfabetização dado a existência de mais de uma língua e de  vários dialetos num mesmo país, sem falar nos demais problemas de uma  colonização desumana secular. E esse problema não existe no Brasil;  portanto É UMA VERGONHA. Até a UNESCO que era cúmplice das estatísticas  desmoralizadas do MEC, mandou seu representante aqui para tentar  remediar o desastroso resultado fazendo recomendações superficiais. Os  PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) desapareceram, foram jogados no  lixo assim como os falsos bilhetes premiados o são após os golpes.

Mas o Sr. Paulo Renato promoveu-se com esse e outros marquetingues  (o principal deles foi a grande badalação na imprensa durante 8 anos) e  quase foi o candidato a presidente pelo PSDB por exigência do próprio  FHC; todavia Serra cortou seu barato. Dizem que Serra, depois da morte  de Covas e Serjão, ficou com a chave do COFRE 2 do PSDB e por isso impôs seu nome, mas isso é outra história. Voltemos à vaca fria.

A educação brasileira se deu mal durante e depois dos PCN, mas Paulo  Renato e sua entourage deram-se muito bem. Pois o conto do vigário dos  PCN tinha esse objetivo.

Eram duas as finalidades dos PCN (Par. Curric. Nacionais). A  primeira, adubar a carreira política de Paulo Renato e sua corja. A  segunda, distrair as forças políticas das instituições de educação com  uma discussão acadêmica cujas conclusões jamais serão implementadas; uma manobra diversionista, enquanto a verdadeira reforma, velha receita do  FMI e do Banco Mundial, ia sendo feita na surdina, por partes, através  de medidas provisórias, normas, cortes de verbas no orçamento etc. Isso  levou a uma conseqüência adicional, que foi a cisão do movimento  político educacional, isolando cada vez mais as forças conseqüentes,  pois se estabeleceu uma falsa polarização, entre os que querem  participar da discussão democrática de um bem intencionado projeto (que  na realidade é uma farsa diversionista) e os que ficam denunciando o  verdadeiro projeto privatista, difícil de ser identificado, pois é feito às escondidas e por etapas aparentemente desconexas, para não se ter a  visão geral dos seus objetivos.

Assim o Sr. Paulo Renato hoje, apesar de não ter conseguido seu  intento de ser presidente da república, é ao lado de FHC personalidade  de peso nas decisões do ID (Interamerican Diologue) sobre as sucessões  na América Latina. O ministro competente que reprimiu o movimento  docente, arrochou os seus salários, reduziu os custos da educação em  todos os níveis e ainda saiu como um gestor criativo que inovou em  educação, torna-se homem de extrema confiança do ID, Banco Mundial e  quejandos.

Já as gerações de criança e jovens que ficarão com suas inteligências atrofiadas, que serão marginalizadas em massa da sociedade, serão  lembradas apenas pelas estatísticas policiais.

Não tenho dúvida, que se no futuro houvesse um tribunal de Nuremberg para julgar os crimes cometidos contra a infância brasileira, na  primeira fila do banco dos réus, estaria Paulo Renato.

No novo governo, Cristóvão Buarque parece que não tinha autorização  para se auto promover como tinha Paulo Renato de FHC e recebeu chumbo na asa quando estava em pleno vôo, demitido humilhantemente pelo telefone. Não sei se o plano dele de se tornar o homem que erradicou o  analfabetismo do Brasil era de verdade ou mais um CV(Conto do Vigário).  Parece que o seu substituto vendo o que aconteceu com Cristóvão deixou o espaço para os reitores. Está assim aberta a temporada de caça das  raposas e não às raposas. As galinhas que se cuidem.

Portanto o projeto Universidade Nova tem os mesmos objetivos do dos  PCN. O primeiro é adubar a carreira política do Rei Thor. O segundo é  permitir que a verdadeira reforma universitária, velha receita do FMI  continue sendo implementada disfarçadamente via medidas internas e  externas. E de quebra, quebra o movimento sindical no meio, colocando  parte deste a reboque do projeto.

Mas uma coisa tem que ser reconhecida, o conto do vigário dos PCN era mil vezes mais bem elaborado do que esse NU (nova universidade ou vice  versa). Numa escala comparativa de vigarices, o CPN está para o conto do vigarista que vendeu a Torre Eiffel a um americano assim como o NU(nova universidade ou vice versa) está para o da venda de medalha milagrosa  na feira do rolo. Faremos essa comparação adiante.

A UFBA e outras universidades federais já tiveram outros reitores de direita ou conservadores, mas aqueles acreditavam em si e nos seus  propósitos.

Mas essa nova geração de falsos líderes não acredita nem nos seus  propósitos e nem principalmente neles mesmos. Os seus verdadeiros  propósitos não são declarados e seus métodos são escusos, trapaceiam, o  que seria desnecessário se acreditassem na sua força e capacidade.  Os  títulos e currículo que possuem não tem valor algum para eles, são  apenas salvo condutos ou passaportes para transitar.

Valores morais, personalidades reconhecidas pela sociedade, cultura,  tradição ou quaisquer outros valores sociais, são também para serem  usados como moeda de troca.

E em que eles acreditam? Eles acreditam nas fraquezas humanas e as  usam como degraus para a sua ascensão. Eles acreditam no que a  humanidade tem de negativo, o medo e o exploram pavlovianamente ou  skinerianamente. Não há diferença do nazismo.

O nazismo parte do princípio de que todos os homens são corruptos e  aos mais espertos cabe o papel de capatazes da corrupção geral. Há um  filme que ilustra isso de maneira notável. O líder nazista local era ao  mesmo tempo o dono ou capataz de um matadouro de porcos gigantescos. A  maneira fria com que ele esquarteja e pendurava as carcaças  desvisceradas simboliza o nazismo. Os homens são como porcos para serem  cevados e depois fornecer carne e banha.

Esse é o verdadeiro projeto de universidade que nos aguarda se  continuarmos apoiando por ação ou omissão, as políticas de educação que  vêem sendo implementadas desde pelo menos 1994. O ensino superior  brasileiro vai se tornar uma enorme pocilga. Alimentada com restos  provenientes das universidades do primeiro mundo, terão de produzir  banha, não importa a qualidade, e em último caso quebrarão os ossos para extrair o tutano.

Se já é constrangedor ver um Rei Thor nu, muito pior é ver nossos colegas com as vísceras abertas.

Colocar o processo de Bolonha como marco de alguma reforma do ensino  superior europeu é risível. O verdadeiro marco de alguma coisa  revolucionária em ciência e pesquisa na Europa é a construção do novo  acelerador de partículas do CERN. Grande investimento. Devem existir  outros investimentos em ciências e tecnologias estratégicas. Por que os  europeus vão investir tanto nesse projeto? Para elucidar as questõe do  Bóson de Higgs? A estrutura dos Quark? Isso produzirá muita banha?  Haverá retorno imediato do investimento?  A principal razão é que com  esse projeto os europeus se libertam da dependência científica  tecnológica dos EUA nesse setor. Devem existir outros investimentos em  outros setores que exigem mega investimentos como o aeroespacial por  exemplo. Os brasileiros doarão um milhão por ano ao CERN para pegar  algumas migalhas para os físicos brasileiros. Não vou entrar no mérito  se vale a pena ou não para o Brasil, inclusive por não conhecer o  projeto, mas recentemente tivemos aquele espetacular marquetingue para o governo, do astronauta brasileiro que custou mais de vinte milhões e  não adiantou seus adeptos rebaterem as críticas, pois o Austronauta  Pontes acaba de se aposentar aos 43 anos de idade. Se continuar assim o  Brasil acaba de inventar a máquina de fabricar aposentados, mais cara do mundo. Mas o fato é que enquanto o Brasil gosta de pagar caro para ter  as migalhas dos outros, os europeus não querem mais as migalhas do  FERMILAB dos EUA.

Isso é que se chama reforma de ensino superior. Não é Bolonha que vai definir a verdadeira reforma do ensino superior europeu. No máximo  Bolonha vai redefinir os novos feudos políticos burocráticos das  universidades.

ACM já tinha clareza desses métodos. Na reforma do Centro Histórico,  ACM dizia (com outras palavras):?Não tem problema, podem fazer  seminários a vontade, debates, reuniões com a comunidade, intelectual  gosta dessas coisas, não se pode evitar. Mas o dinheiro será aplicado  como eu mandar.?

É atribuído a Rothschild  algo parecido com a frase: ?Dêem-me o  controle do dinheiro de um país e pouco me importa quem faz as leis do  país?.

O que define a verdadeira reforma do ensino superior europeu é a prioridade da APLICAÇÃO das grandes verbas estatais.

O que define a verdadeira reforma da universidade brasileira é a prioridade dos CORTES das grandes verbas estatais.

Na Europa o projeto de reforma de ensino está associado a um projeto  político geral de recuperação da soberania da Europa no cenário mundial  perdida na última guerra.

No Brasil o projeto de reforma de ensino está associado a um projeto  político geral de aprofundamento da perda de sua soberania que foi  ensejada durante a era Vargas.

Assim foi decretado pelo FMI: o Brasil tem que ser uma colônia totalmente dependente científica e tecnologicamente.

É claro que existem núcleos de resistência com abnegados que lutam  heroicamente para reverter em parte esse estado de indigência, mas não  têm apoio espontâneo nem incentivo do governo.

Essa era mais uma razão para se enxergar que essa tal de NU( nova  universidade ou vice versa), PCN(Parâmetros Curriculares Nacionais) e  quejandos, são meros contos de vigário. A adesão a eles é também por  desonestidade.

É tão difícil assim distinguir de imediato um conto do vigário?  Afirmam os delegados que não. Que as vítimas também são desonestas. Que  quando ocorre um caso de conto do vigário, eles tem vontade de prender  imediatamente o queixoso.

A primeira pergunta que uma pessoa honesta deveria fazer diante  desses projetos seria: de onde vem o grosso do dinheiro para fazer essa  reforma? E quanto é ele? São importantes as duas coisas, o valor e a  origem. Da mesma maneira que uma pessoa honesta, ao lhe oferecerem um  bilhete premiado deveria fazer a pergunta: por que o Sr. quer trocar  esse cheque ao portador tão alto por uns míseros trocados meus? Não tem  sentido.

Não existe reforma sem dinheiro. Uma simples reforma de uma casa pode custar o preço da própria casa.

A reforma de 1969 esbanjou recursos para determinadas áreas. Eu me  lembro que a pós graduação de geofísica esnobava a Petrobrás pois tinha  dinheiro de sobra; teve até um navio oceanográfico. Hoje sem a Petrobrás ela sucumbiria. Foi uma reforma também predatória, mas o dinheiro  enxugou as lágrimas.

Como pode se pensar que se vai fazer uma reforma voadora dessa com custo zero? Ou com recursos de origem duvidosa ou indefinida?

Outra pergunta que deve fazer, uma pessoa honesta e em pleno gozo de  suas faculdades mentais é: Não é uma temeridade você mudar de uma hora  para outra os conteúdos e o método de ensino para toda uma geração em  todo um território nacional ou mesmo regional? Mesmo que tivesse  dinheiro? Você tem direito de usar uma geração inteira como cobaia de  experiências surrealistas?

Sabe-se que até uma mudança mais profunda da ementa de uma simples  disciplina básica não se faz aplicando à todas as turmas. Aplica-se  primeiro a uma turma experimental para a qual os alunos migram  voluntariamente. Só depois de testada é que é generalizada.

Por pior que sejam os atuais currículos eles foram testados durante  quase um século e têm recebido modificações graduais e constantes ao  longo desse tempo, para se adaptarem às exigências profissionais  atuais.  Além disso eles são a continuidade dos currículos que vêem  desde o primário até os cursos pré-vestibulares. E a razão pela qual os  egressos não arranjam emprego facilmente, está provado que não tem a ver com a sua capacitação. Aliás, onde há maior rotatividade e sucateamento é justamente nos profissionais da área mais dinâmica que é a das  tecnologias digitais. As profissões tradicionais são as que menos  precisam de reciclagem, salvo os cursos de curta duração dados pelas  empresas ou auto financiados. Ou alguns de extensão ou pós-graduação. O  problema principal está na recessão crônica.

E se olharmos as razões expostas no projeto da tal NU( nova  universidade ou vice versa), veremos que ele não faz nenhuma análise  concreta, seja do conhecimento anterior que o aluno trás ao ingressar na universidade, seja do mercado real que o espera lá fora. São tudo  generalidades e superficialidades frutos de uma falsa erudição. Nada de  concreto. Tudo cascata.

Como se explica então que professores de economia e de administração  de empresas aprovem sem crítica um projeto em que falta a parte  fundamental que é a previsão de existência de fundos para executá-la?

Estamos diante do fenômeno conhecido como o feiticeiro que acredita no próprio feitiço.

Há tempos atrás, de uma ligação incestuosa da universidade com o meio empresarial, surgiu um tipo asqueroso de profissão chamada consultoria  milagreira. A arte de produzir sobre o irreal, sobre o imaginário, útil  para exercitar o pensamento e o intelecto dentro da universidade, sem  fins lucrativos se uniu com o espírito do charlatão no mercado  capitalista com a finalidade de ganhos vendendo vigarices.

A palavra Consultor, mesmo sem adjetivos, já é execrada hoje nos EUA. Mais eu me refiro a um tipo específico de consultor chamado consultor  milagreiro, consultor pirotécnico, guru, ou consultor picareta  simplesmente. Esse tipo de consultor, egresso das universidades  geralmente com um mestrado e às vezes com doutorado, brandindo falsas  teorias e técnicas arrumadas no estilo acadêmico, saquearam as empresas  vítimas da recessão que não precisavam absolutamente de seus serviços,  pois a solução real sempre acabava sendo demissão em massa que o  empresário poderia fazer por conta própria. Chegou-se a criar o seguinte aforismo:

Com a recessão passou a existir dois tipos de empresários: os que choram e os que vendem lenços. Os gurus ou consultores milagreiros são os vendedores de lenços.

Com o processo de privatização da universidade, essas técnicas dos  gurus voltaram como um bumerangue às suas origens universitárias. Vamos  apresentar duas opiniões de pessoas insuspeitas, pois são também  consultores a serviço do capital.

A primeira é de João Bosco Lodi (VEJA, 03/1995), Consultor, Professor de Curso de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de S.  Paulo, autor de 25 livros em sua área, formado em Filosofia pela  Universidade de S. Paulo, currículo com grande experiência prática etc.: ?A Globalização tornou o empresário, uma presa fácil para os  aventureiros?, (?) Em vez de consumir toda novidade que aparece, o  empresário devia confiar mais na própria intuição? (,?) O culto aos  gurús é sinal de uma profunda insegurança dos empresários quanto ao  futuro ?, ?(?), ?Sim,  um teatro. Muitas reuniões, muito barulho, muito show. Cria-se a  impressão de que estão fazendo algo muito importante. Todos ficam  embasbacados. Na realidade, os consultores podem até levantar idéias  boas; mas o seu trabalho é superficial , (?). ?(?) por  insegurança o empresário mergulhou num consumo voraz de palestras e  livros, em busca de fórmulas simplistas. Há quem recorra à astrologia, o que é um desastre. Todos os empresários que consultaram mapa astral  quebraram. Conheço uma empresa que recebia a visita semanal de um  pai-de-santo, faliu(?)?. ?(?) Os gurús são integrantes de uma indústria  cultural muito bem montada que movimenta BILHÕES DE DÓLARES por ano. Tom Peters, apresentado como um mago da administração, é o modelo  desse milenarismo secularizado. Outro exemplo é Michel Hammer, o  inventor da palavra reengenharia?. Esse detalhe é importante; ?o  inventor da palavra reengenharia?; o que acontece, muitas vezes, não é o surgimento de uma nova teoria; o ?teórico?, ou ?gurú?, é geralmente o  criador de um ?bordão?, de ?uma grife? colocada sobre uma  ?interpretação? de práticas já existentes no meio empresarial, como se  verá adiante. A palavra terceirização, por exemplo, é proclamada por  Sani (CASTANHEIROS, 1992) como de sua autoria.

A segunda opinião é de Julio Lobos, um assessor fundamental para o  capital na transição da ditadura para a ?democracia? nos países  emergentes, dando assistência sindical para grandes empresas tanto  privadas como estatais no enfrentamento dos sindicatos tanto nas greves  como nas negociações salariais. Segundo Lôbos (1991): ?(?) Nota-se  que uma empresa foi possuída pela síndrome do Gerenciamento da Qualidade pelos seguintes indícios  ? Um monte de engenheiros indo e vindo do  Japão e falando esquisito (Kaisen, Kamban, etc.), de preferência entre  êles mesmos(?)?.

Outro indício da picaretagem desses consultores é refletido nas  reportagens de capa ou não, da revista EXAME, que era há 15 anos atrás a bíblia dos executivos de grandes empresas e a principal marqueteira  desses consultores milagreiros. Vamos exibir três fases diferentes  dessas reportagens num curto intervalo de tempo de 1991 a 1995.

Primeira fase: Quando a reengenharia estava em ascensão. Os títulos  enumerados a seguir, são todos de artigos mostrando só as vantagens de  enxugar o quadro:

?Sessentona Enxuta? (EXAME, 10 nov. 1993), apologia de uma empresa  que demitiu funcionários e passou a dar lucros; ?O Arrastão Continua?  (idem) sôbre compra de empresas brasileiras por multinacional?; ?A  Reivenção das agências. Elas eram geniais, mas não ligavam para os  números. A reingenharia transformou-as?(Exame, 3 ago.1994); ?TROCA de  COMANDO EM PLENO VÔO?, Apologia do enxugamento da VARIG, executada por  um novo presidente durão (EXAME 12 abr.1995); ?SEM CHORORÔ? apologia de  abertura de mercado (EXAME, 2 ago.1995)?; ?MARVADA CARNE?, sôbre hábitos adaptados de empresários japoneses no Brasil (idem); ASSÉDIO SEXUAL?  Ria e livre-se dêle, diz a consultora Barbara Ley Toffer(idem, 16 ago.  1995)

: ?TROCA de Comando? , ?COMO FICAR MENOR E MELHOR?; ?O EXEMPLO VEM DE BAIXO?, (EXAME, 10 nov.1994); ?IDADE NÃO É DOCUMENTO (?) tem 122 anos  mas quer parecer uma jovem de 20?, ?RENOVAÇÃO CRIATIVA?, ?DE MALHA  LIMPA?, ?SINDICALISTA MODERNO? (EXAME,3ago. 1994); ?UMA VIRADA  ANTOLÓGICA?, ?CRIATURA E CRIADOR?(EXAME, 12 abr.1995) etc.

2ª. Fase: quando a reengenharia entra em parafuso. Crítica hipócrita para sair de baixo.

Reengenharia?; depois a abertura : ?A vida no olho do Furacão ? como é viver numa empresa  que é submetida à reengenharia?(EXAME, 3 ago.  1994).

VOU ME SAFAR DESSA? ? A reengenharia já foi feita. (?) como sobreviver ? e bem ? a isto? (EXAME,1 fev.1995). Finalmente em agosto de 1995 sai a reportagem de capa com a crítica objetiva à reengenharia . ?REENGENHARIA, O QUE FAZER AGORA?; o título no índice: ?CUIDADO, O REMÉDIO PODE MATAR? Na reportagem própriamente dita : ?A REENGENHARIA CONTESTADA?. No texto : ?A reengenharia tem sido encarada como uma espécie de Alcorão no  mundo dos negócios (?) ?é criminoso o que muitas empresas fazem (?)?. ( OU O QUE A EXAME PROPALOU?)

3ª. Fase: tentativa de remediar os males da reengenharia;  fase esotérica; vejam que um nome hindu dá mais credibilidade nessa  fase:

?O FENÔMENO LAIR RIBEIRO. Por quê tantos empresários e executivos ouvem com devoção as prédicas do mestre da auto-ajuda.?

?PRAHALAD É O PRÏNCIPAL MILITANTE DO NOVO MOVIMENTO?; ?(?) A palavra de ordem da reengenharia é ?sejamos menores e melhores?  Prahalad e Hamel acrescentam : ?sejamos menores, melhores e diferentes?. (EXAME, 2 ago. 1995).

?O PROFETA ZEN ENSINA A EMPRESA A APRENDER- O americano Peter  Senge tornou-se um dos mais respeitados ?gurus?do movimento. Ele é o  criador da teoria da Learning Organization ?  As idéias de Senge enumeradas  numa coluna à parte são a charlatanice sobre o óbvio. (EXAME, 2 ago. 1995).

Aliás, tinha no departamento de mecânica da EPUFBA, um certo  professor cujo currículo era pouco convencional e que segundo as  funcionárias da limpeza ele dava santo nos corredores; depois me  informaram que ele dava aula de hipnotismo nos corredores. Isso foi  denunciado por outro professor do departamento e que fixou sua denúncia  nos murais da escola.

Portanto, a consultoria milagreira, os PCN (Parâmetros Curriculares  Nacionais) de Paulo Renato e a Universidade Nova do Rei Thor são,  farinha do mesmo moinho, apenas estão em sacos diferentes.

A consultoria milagreira se resume como diz Lodi: ?Sim, um  teatro. Muitas reuniões, muito barulho, muito show. Cria-se a impressão  de que estão fazendo algo muito importante. Todos ficam embasbacados. Na realidade, os consultores podem até levantar idéias boas; mas o seu  trabalho é superficial , (?).

E a solução final para a empresa, a velha solução praticada há  milênios por qualquer organização: demissão em massa, corte de custos.

É uma cobra de duas cabeças. Uma para iludir e a outra para morder. O conto da sopa de pedras. Mas o consultor leva o dele.

Os PCN a mesma coisa. Eles são um show a parte. Criam idéias  fantasiosas, se não vejamos alguns trechos daquela arquitetura imponente de marquetingue:

?Essas exigências apontam a relevância de discussões sobre a  dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas de discriminação, a importância da solidariedade e do respeito.  Cabe ao campo educacional propiciar aos alunos as capacidades de  vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural.  Apresenta-se para a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de  assumir-se como espaço social de construção dos significados éticos  necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania.?

 

Tirando o plágio de Faustão (hoje mais do que nunca,?), o texto é de  bom nível.  Por ele, o Brasil já resolveu todos os desafios básicos que  atormentam ainda os demais países do mundo, inclusive os de primeiro  mundo, como o de aprender a ler, a escrever, a contar etc. O Brasil está em outra, construindo o homem do quarto milênio. Assim falava o  Macunatustra Paulo Renato: Eu lhes apresento o ultra homem.

E os objetivos do PCN então, ultrapassam o imaginário de qualquer escritor de contos de fada. Vejamos:

OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:

 

? compreender a cidadania como participação social e política,  assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais,  adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio  às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;

? posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

? conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões  sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência  ao País;

? conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural  brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações,  posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças  culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras  características individuais e sociais;

? perceber-se integrante, dependente e agente transformador do  ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles,  contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

? desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento  de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética,  estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com  perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;

? conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando  hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e  agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;

? utilizar as diferentes linguagens ? verbal, matemática,  gráfica, plástica e corporal ? como meio para produzir, expressar e  comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais,  em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e  situações de comunicação;

? saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;

? questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de  resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

 

Talvez um sábio tibetano consiga aos 60 anos chegar a esse estado de  discernimento. Ainda bem que os PCN não vingaram, se não os jovens  perderiam o sentido de viver, pois não tinham mais nada a aprender com a vida.

Enquanto a comunidade acadêmica se embasbacava com esse show dos  PCN(Parâmetros Curriculares Nacionais), o MEC fazia a verdadeira  reforma: corte de verbas, contingenciamento de custos. Mas Paulo Renato  levou sua recompensa.

Na Universidade Nova, a mesma coisa. Enquanto o Rei Thor dá o seu  show, com encontros nacionais, seu manifesto e encomenda um texto com  megalomanias, o MEC continua executando seu velho receituário do FMI e  Banco Mundial. E com certeza algum reitor ou o ministro vão faturar em  cima desse espetáculo. Se olharmos o tal manifesto dos reitores veremos  que segue a mesma linha dos PCN. Já o projeto do Rei Thor é uma salada  de contradições para satisfazer quase todos os gostos, de stalinistas,  trotisquistas, liberais, cristãos muçulmanos sunitas e xiitas,  agnósticos, saudosistas, funqueiros etc., pois tinha que engabelar a  comunidade crítica da UFBA. Não vamos analisar essas contradições, pois é perda de tempo, mas destacaremos algumas pérolas de desrespeito à  inteligência alheia:

Assim, na Universidade Nova, formaremos mais  engenheiros expostos à poesia, mais médicos com uma compreensão  ecológica, mais artistas com uma passagem pela filosofia, mais  administradores com formação histórica, mais químicos com estudos  clássicos.

 

Eu não acredito que eles mesmos acreditem nessa fantasia.

A Universidade Nova, internacionalizada de um certo modo (do  nosso modo), poderá resultar do intercâmbio entre a rede universitária  brasileira (e latino-americana) e a matriz intelectual e cultural do  continente europeu, atualizada pelo Processo de Bolonha.

 

Já dizia o General Figueiredo, menos hipócrita do que os autores desse projeto: ?Não existe meia virgindade?. Não existe internacionalização de um certo modo, existe  internacionalização ou não existe internacionalização. E o que eles  propõem é internacionalização bem clara. A matriz é ...?a matriz intelectual e cultural do continente europeu,?? ,enquanto a universidade brasileira funciona como uma mera rede  atrelada à matriz; não existe matriz intelectual e cultural brasileira  para eles.

Como não existe estupro de um certo modo, à inteligência alheia; esse projeto é um estupro de fato à inteligência.

São também comuns aos três, os bordões ou grifes de marquetingue.

Como a consultoria milagreira é já uma instituição e não apenas um  projeto transitório e tem dezenas de anos de praia, é natural que nela  abunde mais as grifes: terceirização (a velha e anti diluviana prática  de empreitada), reengenharia (velha prática antidiluviana de demitir em  massa e usar novas máquinas), CQT (velha modalidade de extração de mais  valia absoluta) etc., tudo velharias com novas aparências. Mas eu quero  citar alguns bordões excessivamente criativos e cínicos como:

?PRAHALAD É O PRÏNCIPAL MILITANTE DO NOVO MOVIMENTO?; ?(?) A palavra de ordem da reengenharia é ?sejamos menores e melhores?  Prahalad e Hamel acrescentam : ?sejamos menores, melhores e diferentes?. (EXAME, 2 ago. 1995).

Diferentes como? Pintando a cozinha da empresa de vermelho?

?O PROFETA ZEN ENSINA A EMPRESA A APRENDER- O americano Peter  Senge tornou-se um dos mais respeitados ?gurus?do movimento. Êle é o  criador da teoria da Learning Organization ?  As idéias de Senge enumeradas  numa coluna à parte são a charlatanice sôbre o óbvio. (EXAME, 2 ago. 1995).

Compare com o ?aprender a aprender? dos PCN de Paulo Renato:

conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, ?aprender a aprender?. Isso coloca novas demandas para a escola. A  educação básica tem assim a função de garantir condições para que o  aluno construa instrumentos que o capacitem para um processo de educação permanente.

 

Fixemo-nos no ?aprender a aprender? (o mais do que nunca de Faustão  não tem grande importância). É uma expressão oca que tem apenas uma  finalidade de marquetingue. Se for possível implementar essa farsa de  ?aprender a aprender? nas propagandas das escolas privadas como já o foi o do bordão ?ensinar inteligência emocional?, no outro ano apareceria  outro picareta que pregaria o ?aprender a aprender a aprender?, E no ano seguinte, ?aprender a aprender a aprender a aprender?, e assim por diante. É melhor até que os autores dela o tenham feito com essa conotação de farsa, de demagogia igual a outros rótulos  demagógicos como learning organization, etc., uma outra interpretação  seria muito mais grave. Pois o homem está apto a aprender à medida que  nasce e desde esse momento não faz outra coisa se não aprender até a  morte. O problema é o que aprender. Então uma escola que ensine a  ?aprender a aprender? teria uma conotação totalitária. Dá-se a impressão que se quer eliminar o livre arbítrio e através de uma operação de  engenharia genética determinar o que se deve aprender. Nesse aspecto,  ela cai no que ela critica da pedagogia tradicional que é enfiar  conhecimentos preestabelecidos no crânio do aluno. Só que de maneira  mais radical, deformando seu modo de aprender, seja alterando o seu DNA, ou por um processo subliminar, sei lá. O tal do construtivismo tão  pregado é totalmente negado.

No manifesto da Universidade Nova dos Reitores de Universidades  Federais Brasileiras pela Reestruturação da Educação Superior no Brasil  está lá o indefectível ?aprender a aprender? no no item 6. dos considerandos:

 

6.     que o exercício da autonomia universitária (?) Isto implica mobilizar o estudante do século XXI a aprender a aprender, a ser menos mimético e mais criativo, a ser cidadão responsável (?) e sujeito empreendedor(?)

 

Delicadamente etc. e tal. É desnecessário dizer que o resto do tal  manifesto não tem diferença dos PCN quanto à megalomania e ao  surrealismo infantil.

Portanto, PCN(Parâmetros Curriculares Nacionais), Universidade Nova e Consultoria Milagrosa são metástases de um mesmo Câncer Neoliberal.

F. Santana

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