Adeus, Selminha!

SELMA-BARBOSA-ALVES

h.

á pouco mais de um mês falei com a potiguar – quase baiana -,  Selma Barbosa Alves, ou Selminha como eu a chamava. Jamais podia imaginar que era o nosso último encontro. Eu almoçava na cantina da Escola de Administração da UFBA e ela passava por lá. Falou-me alegremente de um curso que estava fazendo naquela Unidade de ensino e mencionou a sua aposentadoria que estava próxima. Certamente, não haveria de abandonar a edição de vídeo. Quem se envolve com esse vício, não o larga mais. É uma cachaça !… Ainda mais para ela que tinha tanta intimidade com o ofício. Selminha tinha muitos planos para o futuro. Vi nos seus olhos o brilho da alegria e do contentamento. Além da ilha de edição digital que montaria, ainda haveria de fazer muitas viagens pelas grandes matrizes da cultura audiovisual. Depois do duro que dera a vida inteira, podia brevemente gozar da aposentadoria merecida.

Recordamos de um trabalho que editamos juntos. Era uma síntese, em vídeo, da pesquisa da Profa. Dalva Martins, aposentada da FACED e já falecida, realizada na área da construção da linguagem. Fizemos também uma outro edição de vídeo com a então graduanda de Letras, Fátima Santiago, sobre o folclore infantil. Profissionalismo e gentileza sempre foram a marca de Selma. Diria, também, doçura!

Nos dois trabalhos realizados conjuntamente, pude conhecer de perto a competência e a infinita paciência dessa extraordinária profissional que a UFBA acaba de perder de forma tão violenta. A FACOM está triste, a UFBA está chocada, estamos todos perplexos.

Mais corações despedaçados e famílias enlutadas por uma violência sem limite que vai tomando conta da Bahia. O poder público está no limite da falência. Não faz muito tempo que a FACOM perdeu um aluno de forma também brutal. O medo toma conta dos baianos. Quem será a próxima vítima?

Dói-me em pensar o quão vã foi a esperança em dias risonhos e plácidos que iluminou aquele semblante tão cheio de planos. Mal sabia dos perigos que nos rondam pelas esquinas desta terra cada vez mais insegura, como se fora desígnios de entidades malfazejas, ávidas por sepultar os nossos sonhos mais singelos…

Menandro Ramos

5 Respostas to “Adeus, Selminha!”

  1. Rômulo Luiz de Castro Meira Says:

    É uma mensagem a cada um de nós. Amanhã será um outro de nós, assim como agora foi a Selminha, que não tive o prazer de conhecer, mas por quem sofro um pesar de ter perdido um ente querido e uma revolta frente a inércia e cinismo dos nossos governantes, inéptos para tal mas de uma agilidade incrível quando para nos roubar, dedos ágeis de prestidigitador, mente viva e ágil como um Einstein, mas se revelam mesmo e para nós, verdadeiros Frankesteins…Choro a perda de uma colega da UFBA….Estou de luto como os colegas da FACOM…estou em processo de aposentadoria…. temo a morte à minha espreita, na porta do ICS.

  2. Emerson Alleluia Says:

    Tamanha perplexidade se reflete ainda mais, em ver todas as imagens em vídeo e nada poder fazer para impedir um ato tão vil. Cenas que antes eram a razão de investigações prolongadas e as vezes tão improdutivas. Agora estão ali, bem perto de nós e ao alcance dos dedos nos diversos meios de comunicação, mas mesmo assim, nada podemos fazer.É muito triste perceber que a segurança está em segundo plano na capital baiana. Até quando…

  3. Maria Helena Oliveira Says:

    Professor Menandro, eu não a conhecia, mas a brutalidade com que lhe tiraram a vida me deixou constermada.
    Tenho pensado que nos limitamos a ficar chocados , mas não gritamos, não radicalizamos, não exigimos desses governantes a segurança que todo cidadão tem direito. A verdade é que ninguém sabe quem será a próxima vítima dessa selva.

  4. ANTONIETA RIZZO Says:

    Grata a você Menandro por dizer aquilo que muitos gostariam de ter dito e por expressar o sentimento de tristeza que nos invade neste momento. Eu moro aqui bem perto do local onde se deu o trágico acontecimento e posso dizer que são várias as ocorrências de violência e morte que já aconteceram nos últimos anos.
    Antonieta

  5. Henrique Filho Says:

    Prezado Menandro,

    Eu tive quase pouco contato com Selma (um pequeno frasco com um grande perfume). Faço parte do curso de pós (GPU – Gestão em Processo Universitários) em ADM e tinha pouca aproximação, mas a alegria que passava era de grande destaque. Eu sempre me lembro da pipoca (natural) que ela levava e sabia disso por causa do aroma na sala. Brutal é o nome mais simples que posso emitir sobre a forma que ela foi ceifada do convívio dos amigos e colegas…as cenas que vi (no mesmo dia pela internet) são desconcertantes e impactantes… Desejo o melhor para nós, ela já está MUITO BEM! Bem longe desse plano em que estamos vivendo.

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