69 – Departamentos na mira

 

O Saci adaptou um cartum da internet para mostrar que o "Grande Irmão" quer jantar a autonomia dos Departamentos ou, pelo menos, jogou o barro... (Clique na charge para ampliá-la).

3 Respostas to “69 – Departamentos na mira”

  1. Menandro Ramos Says:

    O texto abaixo foi enviado para a lista do Departamento II, da FACED/UFBA:
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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
    FACULDADE DE EDUCAÇÃO
    DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO II

    DEPARTAMENTO: Unidade básica da Universidade

    João Batista de Souza

    RESUMO: aborda a necessidade e importância historico-política e acadêmica do Departamento como unidade básica da dinâmica da produção do saber na Universidade.

    Palavras-chave: avaliação, políticas, participação, saber, estrutura e gestão pedagógica.

    A nossa finalidade principal nesse texto é apresentar, mesmo que preliminarmente, como um dos componentes da Comissão de Revisão do Regimento da FACED, do Departamento II, alguns aspectos que consideramos relevantes para a discussão a respeito da manutenção do Departamento como unidade básica da estrutura da FACED.

    Um breve levantamento junto as Universidades Brasileiras nos demonstrou que a quase totalidade tem o Departamento como base estrutural em sua organização. Vimos também que universidades no resto do mundo mantêm a estrutura departamental como base e, em nosso levantamento, encontramos uma pesquisa, realizada no ano 2000: “Análise da eficiência relativa de Departamentos Acadêmicos – O caso da UFRGS”, de Denise Lindistrom Nogueira, sob a orientação dos professores João Luiz Becker e Denis Borenstein, ambos PHD, da qual retiramos alguns dados relevantes a respeito do tema. (grifo nosso)

    A pesquisa tomou por base a avaliação institucional mediante a utilização da técnica DEA (Data Envelopment Analysis) – Análise Envoltória de Dados, e seus resultados nos sugerem alguns aspectos para reflexão, que apontam para a manutenção do Departamento na base da estrutura universitária. Vejamos:

    A eficiência total dos departamentos apresentou-se bastante homogênea, sendo que 54,3% dos departamentos foram considerados 100% eficientes relativamente. A menor eficiência relativa foi de 70,48%, o que não pode ser considerado um desempenho ruim. Devido às diferenças inerentes à natureza de cada departamento, esperava-se o surgimento de maiores discrepâncias entre as eficiências, mas não foi o que se observou, assim como FOSTER, (1994), utilizando DEA, já havia concluído ao analisar uma instituição de ensino superior de Hong Kong. (BANDEIRA, 2000, p 94)

    A autora também justifica a utilização da metodologia aplicada em sua pesquisa, o que para nós, enfraquece e afasta alguns argumentos a favor da extinção do Departamento, como meio de resolução dos problemas das Unidades e da Universidade em seu todo. Já na definição da problemática da pesquisa a autora apresenta aspectos bastante interessantes que selecionamos alguns para a nossa discussão.

    a) em todo o mundo busca-se a melhoria da qualidade das universidades através de avaliações periódicas. […] c) as questões do não atendimento à crescente demanda e da falta de dinamismo das universidades públicas são atuais e vem se agravando com o passar dos anos […] e) a departamentalização, vigente desde 1968, diminuiu a integração entre os cursos e a flexibilidade da universidade como um todo. (BANDEIRA, 2000, p. 8)

    Baseada num seminário realizado na UFRGS, em 1998, a autora esboça algumas afirmações que possuem relação direta com a departamentalização:

    • a constatação de que cada departamento deve ser uma unidade acadêmica e não uma unidade adminstraiva;
    • busca de maior flexibilização da universidade, a fim de acompanhar as mudanças rápidas da sociedade atual;
    • reorganização dos departamentos para funcionamento nos três turnos. O turno da noite atualmente não recebe a atenção necessária, contrastando com a qualidade dos cursos noturnos;
    • criação de secretarias e bibliotecas conjuntas em algumas unidades, visando à racionalização de recursos;
    • busca da excelência de toda a Universidade, diminuindo a diferença que existe atualmente entre alguns cursos. Aumentando a integração entre departamentos, será possível repassar experiências que já se provaram corretas. (BANDEIRA, 2000, p. 9)

    Para analisar a necessidade da estrutura departamental é preciso levarmos em conta o seu papel, significado e o que representa na Universidade, sob o ponto de vista da democracia contemporânea, em contraponto ao período em que os departamentos foram criados nas Universidades Brasileiras, em plena ditadura, no final da década de 1960, início da de setenta. É preciso reconhecer que o Departamento, sendo criado em época tão adversa, mesmo assim, vencendo resistências, sempre tentou cumprir suas finalidades e, a maior delas, de significar um espaço coletivo de decisões políticas e acadêmicas, em prol da Universidade pública gratuita e de qualidade, destacando-se também como organização gestora pedagógica, nas Unidades Universitárias, com repercussões importantes para a Universidade.

    È evidente que, e isto também foi considerado pela citada pesquisadora, na década de 1960, os Departamentos refletiram a dicotomia entre o administrativo e o pedagógico, por conta da própria filosofia da Reforma de 1968. Nos dias atuais, a superação dessa dicotomia deve se dar por outras vias, sendo uma delas a avaliação, inclusive como iniciativa interna, no sentido de propor soluções em que a participação dos Departamentos na vida das Unidades Universitárias esteja cada vez mais presente na discussão e definição dos princípios, valores e políticas da Instituição. Portanto, acabar com o Departamento pode significar um deslocamento de foco que pode não representar solução consequente para os reais problemas da Universidade.

    A estrutura departamental, já reconhecida e experimentada, precisa ser avaliada a partir de questões, como:

    1. os problemas reais da Universidade estão na estrutura ou na falta de políticas que mobilizem seus diversos segmentos e setores?

    2. Abandonar uma estrutura departamental, que historicamente se consolidou tanto na UFBA quanto em outras Universidades, é um ato política e gerencialmente responsável?

    3. Será que a estrutura departamental é desnecessária ou são as relações internas e as políticas da Universidade que precisam se atualizar de maneira a trazer significados mais condizentes com a contemporaneidade?

    A estrutura não responde sozinha pelos processos e seus resultados. Estes fazem parte da dinâmica das relações que dão sentido às estruturas. A partir dessa compreensão, acabar o departamento nos parece, além de pré-maturo, ilógico, principalmente, se considerarmos os resultados das pesquisas em todo o mundo, algumas presentes na que aqui foi citada. O departamento sempre se caracterizou como um dos locais de convivência democrática para as decisões, além de ser a unidade de produção do saber e cultura na Universidade, representando também a unidade suporte para o desenvolvimento dos processos acadêmicos em interação com os diversos segmentos sociais.

    Do nosso ponto de vista, o que precisa acontecer é a ressignificação da estrutura da Universidade em sua totalidade, ao contrário da extinção de alguns setores de sua base. Se os processos e procedimentos são ressignificados a partir de políticas e concepções inovadoras, as unidades estruturais, dentre elas o Departamento, serão também ressignificadas. Acabar o Departamento como pretexto para a melhoria da vida universitária é deslocar o foco dos reais problemas da Universidade que precisa continuar cumprindo sua finalidade precípua de mediar as relações entre o Estado e a sociedade, pela produção do saber, da tecnologia e da cultura.

    REFERÊNCIA:

    BANDEIRA, D.L. : “Análise da eficiência relativa de Departamentos Acadêmicos – O caso da UFRGS”, 2000, 133f. Dissertação de Mestrado ( Programa de Pós-Graduação em Administração) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, 2000.
    Disponível em: >www.lume.ufrgs.br/handle/10183/375<.
    Acessado em: 08 abr. 2010.

  2. Menandro Ramos Says:

    O texto abaixo foi enviado para a lista do Departamento II, da FACED/UFBA:
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    Muito bem João, seu ônibus está em movimento!O texto está muito interessante. Se me permitir, gostaria de utilizar minha tese, Ufba na Memória, para lembrar de muitos aspectos em defesa do departamento. As cátedras e catedráticos, seu modelo de representação dos próprios interesses chegaram ao fim com uma definição de carreira docente, dentro de uma estrutura departamental. No departamento, os docentes tomam decisões públicas, coletivas, as atas são públicas assinadas pelos que a leram e concordaram. Numa estrutura colegiada serei representada. Hoje, tenho muito medo de representações que não se comunicam com seus representados na universidade, do lado de fora, esta atitude naturalizou-se…
    Referenciada na História, observo o ambiente universitário e comprovo que as pessoas dão pouco valor ao direito de decidir que a organização departamental oferece. O professor tem até sua carreira decidida entre pares, numa relação horizontalizada, compartilhando os destinos do coletivo e não se reconhece isto como um grande diferencial.
    O departamento funciona muito bem em todas as grandes universidades do mundo. A Ufba chegou à sua estruturação acadêmica após um longo processo de construção e debate, que foi aprovada pelo CNE antes da reforma dos militares. No departamento você é um igual, nem mesmo o reitor pode quebrar a autonomia, desde que compatível com a legislação. Como em todas as instituições, ele tem seus vícios e virtudes, mudança de padrão que depende só do coletivo. Onde há a força do coletivo, o poder hegemônico desejará quebrar para que obedeçamos com verniz de democracia.
    A característica da universidade é sua abertura para as mudanças, tanto é assim, que ela prosseguiu do século XII ao XXI, não devemos acusar a universidade de conservadora, é bom que ela conserve suas características matriciais, uma delas é sobre a autonomia, em todas as instâncias e segmentos; a diversidade que se iguala no voto direto. Do meu ponto de vista, não caberia fazermos revisões sobre departamento e sim sobre os colegiados de curso; sobre nosso fazer ensino-pesquisa-extensão; sobre a situação da pós-graduação; sobre a disparidade entre votos do segmento estudantil e o docente no departamento e outras representações; sobre a Faced, o funcionamento de três departamentos e seus cursos oferecidos por colegiados.
    Por que departamento incomoda tanto? É no departamento podemos manter este diálogo, preparando-nos para a referida interdepartamental, preparando nossos representantes para suas atuações em plenária e em comissões. Se precisar de mais reuniões, devem ser chamadas, somos remunerados todas as segundas para este fim, é crucial, emergencial e determinará funcionamento nas próximas décadas. Ou não acham isto?
    B
    MI

    [O texto acima é de autoria da Profa. Maria Inês Marques – FACED/UFBA]

  3. luis paulo Says:

    Os departamentos, no Brasil, foram instituídos na reforma de 1968 para susbtituir os catedráticos na gestão dos docentes agrupados por afinidade. Apesar dessa reforma ter tido lugar durante o regime militar, o departamento representou mais democracia do que a gestão medieval dos professores catedráticos. Mas, o tempo não pára, com cantava Cazuza, e a interdisciplinaridade nas universidades exige uma estrutura mais ágil. Alguns querem se aproveitar disso para dar um golpe autoritário, centralizando os poderes nas direções ou nas decanias. Uma solução intermediária seria transferir a lotação do docente para a unidade ou a decanai, e deixar a localização no departamento. Isso daria mais flexibilidade para mover docentes entre departamentos e unidades, preservando o quantitativo de recursos docentes. Poderia se permitir inclusive a localização múltipla – Um docente que dá aulas de graduação no departamento de estatística, mas atua na pós-graduação do departamento de geologia,por exemplo –

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