Axé vestibular – Altino Bomfim
AXÉ VESTIBULAR
Altino Bomfim[1]
Em fevereiro…tem carnaval! Ao longo do ano, tem vestibular! Pensa-se nesse evento como algo que ocorre apenas em determinadas datas, meio e final de ano. Ledo engano! Desde março a indústria dos cursinhos funciona a pleno vapor no processo de padronização em massa dos adolescentes para se submeterem à competitiva peneira de acesso ao ensino superior.
No atual estágio da sociedade moderna que promove a redução e desregulamentação do emprego o marketing cumpre importante papel de massificar a idéia de que a universidade é o passaporte para o mercado na medida em que se entende a educação como promotora da mobilidade social, particularmente nos centros urbanos.
A demanda continua em alta para oferta limitada. Daí a sofisticação do funil e a criação de paliativos que não resolvem a exclusão e mantem as desigualdades de classe e condições diferenciadas de acesso ao bem educação. Como o trem das universidades, um negócio com limitada estrutura e pessoal (professores e funcionários), não cabe todos, sofisticam-se os instrumentos de seleção que, nas universidades mais procuradas, coloca até vinte e uma pessoas concorrendo a uma vaga. Imagine-se: mais de cem mil concorrem a vagas nas públicas.
No mercado da informação dirigida e alienante que ensina a marcar cruzinha, os cursinhos, como lojas, multiplicam-se em suas profundas diferenciações: os intensivos ou extensivos para a elite ao custo de milhares de reais e os dirigidos aos filhos dos trabalhadores, a “preços módicos”. Os despossuídos, nem o fazem.
A programação acompanha a dinâmica pré-carnavalesca. Além dos cursinhos regulares acontecem os “ensaios”, programações a exemplo dos ensaios das bandas de Axé e cantores do carnaval. E, em nada ficam a dever: recente “ensaio” reuniu dois mil esperançosos estudantes no Centro de Convenções que pagaram trinta reais para terem acesso a “aula show”. E os ensaios-show multiplicam-se por disciplina: hoje português, amanhã história, depois geografia. No jargão economês, grande demanda, limitada oferta parte-se para a ampla massificação.
Em dezembro os concorrentes vitoriosos comemoram, os pais suspiram aliviados e a sociedade aguarda o próximo março para início de mais uma temporada dos “ensaios” em se pensa até em fazer show na Concha Acústica. AXÉ VESTIBULAR!!
[1] Doutor e professor associado da Faculdade de Filosofia da UFBA.
janeiro 6, 2010 às 11:31 am |
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